Em 1956, São Paulo foi palco de uma das intervenções mais ousadas e provocativas da história da arte brasileira. Flávio de Carvalho, arquiteto, pintor e um dos mais intrigantes pensadores do modernismo no Brasil, saiu às ruas com seu “Experiência nº 3” — uma performance que buscava romper com as convenções do vestuário masculino.
Vestido com o que chamou de “new look” ou “traje de verão”, Carvalho propôs uma nova forma de encarar a moda no contexto do clima tropical. Sua roupa, composta por uma blusa leve, um saiote, meias e sandálias, era uma alternativa radical ao terno e gravata, típicos do guarda-roupa masculino da época. A proposta não era apenas estética, mas também uma crítica contundente ao desconforto imposto por trajes europeus em um país de clima quente.
A caminhada de Carvalho pelas ruas do centro de São Paulo foi recebida com reações mistas: curiosidade, perplexidade e, em muitos casos, hostilidade. Passantes reagiram com incredulidade, e alguns chegaram a insultá-lo, evidenciando a resistência da sociedade brasileira às mudanças propostas pelo modernismo.
Flávio de Carvalho, no entanto, via sua intervenção como um experimento social. Sua intenção era expor as tensões entre tradição e modernidade, especialmente em uma sociedade que começava a se industrializar e a urbanizar-se rapidamente. Mais do que uma simples provocação, o “Experiência nº 3” tornou-se um marco na história da performance e da arte conceitual no Brasil, sendo lembrado até hoje como um gesto audacioso de ruptura cultural.
Por Hermano Araruna