Com as peças no tabuleiro eleitoral para 2026 começando a se movimentar silenciosamente nesta virada de ano, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, vive, atualmente, um dilema: continuar ou não no cargo em 2025? Terceira colocada no primeiro turno da disputa presidencial de 2022, Tebet ganhou visibilidade nacional e foi apontada em pesquisa de opinião pública feita pelo MDB como o nome mais lembrado do partido, ao lado de outras estrelas da legenda, como Ulysses Guimarães e Michel Temer. De lá para cá, no entanto, assumiu o ministério tido como o mais impopular da Esplanada, enfrenta as resistências do PT, partido do presidente Lula, e, publicamente, tem ficado em segundo plano até quando o debate trata da área dela, como agora no ajuste das despesas públicas.
“Simone é estratégica”, argumenta um amigo próximo, sinalizando que ela age de caso pensado nessa articulação interna no governo. Especialmente porque sabe que sofre um “boicote natural” do PT. “Ela está recolhida. Não é hora de se lançar a nada”, afirma um integrante do governo, enfatizando que Tebet nunca deixa de se posicionar, “contra ou a favor”, nos debates dentro da equipe econômica e com o presidente. “Há um longo caminho a percorrer dentro do próprio partido até 2026, mas se quiser ser candidata, Simone precisa se afastar do governo Lula. E ela sabe disso”, avalia um interlocutor da ministra.
O Ministério do Planejamento de Tebet perdeu o protagonismo na discussão sobre as mudanças necessárias no chamado arcabouço fiscal (regras que tentam conter o ritmo de crescimento dos gastos públicos) para o Ministério da Fazenda. O titular da pasta, Fernando Haddad, é petista de carteirinha, afilhado político de Lula e, embora diga que não, também está de olho em 2026. Depois de um puxão de orelhas do presidente para falar mais e de forma mais entusiasmada, Haddad assumiu o discurso público sobre o tema e tomou a frente das negociações com o Planalto sobre as medidas que serão adotadas.
É verdade que a Fazenda é parte importante desse debate. Mas, por definição, cuidar do gasto público é a principal atribuição do Planejamento, enquanto a Fazenda tem responsabilidade com as receitas. E o ponto central do arcabouço fiscal é uma regra para evitar que as despesas do governo cresçam num ritmo maior do que o da arrecadação. Na prática, os dois deveriam funcionar afinados, como em uma orquestra. No entanto, internamente, a crítica, de um lado, é que o time de Simone fez o trabalho de analisar os gastos e propor medidas estruturantes, mas elas são consideradas “impopulares demais” pelo presidente Lula. De outro, a equipe de Haddad diz que é preciso sempre “puxar o Planejamento”. É fato que Haddad assumiu as negociações com o Planalto, para fazer a escolha, avaliando, sobretudo, o tabuleiro político.
À espera de Lula
É visível que, mais do que um pacote com regras para garantir o equilíbrio fiscal, o que está em jogo nas movimentações em Brasília a partir de agora, é uma posição estratégica para 2026, enquanto a candidatura de Lula à reeleição ainda é uma incógnita.
Na Fazenda e no Planejamento, os técnicos desfiam rosários de motivos para demonstrar a importância de o governo sinalizar com ações que reforcem o compromisso com o equilíbrio fiscal. Nos últimos dias, o cenário internacional foi um argumento a mais, dado o nível de turbulência no mercado financeiro que pode ter origem lá de fora. Tecnicamente, sabe-se que a falta de ação na área fiscal, hoje, pode comprometer não só a credibilidade do governo, mas o crescimento da economia em 2026, ano da próxima eleição presidencial. Na política, o pacote de medidas ganha uma conotação bem mais estratégica.
Ficar ou ir embora
No entorno de Tebet, cresceu, nas últimas semanas, a tese de que ela deveria se desvincular do governo Lula, caso almeje se candidatar novamente ao Planalto em 2026. Por essa lógica, ela teria 2025 para viajar pelo país e fortalecer a presença em áreas estratégicas.
Isso favorece uma atuação pública mais discreta agora, deixando Haddad assumir externamente a liderança do jogo. No entanto, só faz algum sentido, segundo admitem interlocutores no governo, se Lula desistir de tentar a reeleição. Caso contrário, dificilmente “haverá espaço para Tebet na corrida presidencial como cabeça de chapa” (expressão usada para definir o principal candidato na composição política). Simone já foi aconselhada por pessoas próximas a deixar o ministério, mas, até agora, não demonstrou muita disposição. De acordo com amigos, a indecisão tem, também, um motivo político: “Não vamos descartar que poder haver, ainda, uma articulação do MDB com o PT e Simone pode ser um nome para vice-presidente”.
No cenário sem Lula concorrendo em 2026, Tebet ainda precisará enfrentar a concorrência interna. Dentro do MDB não faltam nomes querendo se cacifar para a sucessão presidencial. O governador do Pará, Helder Barbalho, é um deles. Com peso político dentro do partido e vitorioso nas eleições municipais desse ano (MDB elegeu 86 prefeitos no Pará, incluindo um primo e afilhado político do governador em Belém), “ele está de olho nessa vaga”, afirma um interlocutor. Mas Helder sofre do mesmo mal de Simone: precisa se desvincular do governo Lula. “Como podem pensar em entrar numa disputa e criticar um governo ao qual estão vinculados?”, indaga essa mesma fonte.
O cronômetro já está rodando em contagem regressiva para 2026 e, assim como no xadrez do ajuste fiscal, tudo a partir de agora envolve planejamento, antecipação e estratégia. Cada movimento deve ser pensado não apenas de olho no curto prazo, mas, sobretudo, nas possíveis reações dos oponentes. Será a hora de Simone Tebet mostrar se tem, de fato, as qualidades de estrategista habilidosa que seus aliados próximos apregoam.