O universo literário de Machado de Assis atravessou o Atlântico e, mais de um século após sua morte, encontrou eco nos Estados Unidos. Tudo começou com uma entrevista de Woody Allen ao The Guardian em 2011, onde o cineasta, conhecido por seu intelecto refinado, classificou Memórias Póstumas de Brás Cubas como um dos cinco melhores livros que já leu. A declaração funcionou como um farol, iluminando a obra do escritor brasileiro para leitores americanos.
Agora, na edição mais recente da New Yorker, o poeta David Lehman presta homenagem ao legado machadiano em uma série de cinco poemas que capturam o espírito inquieto e irônico do autor de Dom Casmurro. No primeiro dos poemas, Lehman declara sua intenção de escrever “com a caneta-tinteiro da alegria e a tinta da melancolia”, uma imagem que parece dialogar diretamente com o tom ambivalente e multifacetado de Machado.
A admiração crescente de leitores e escritores norte-americanos por Machado de Assis não é apenas um reconhecimento tardio de sua genialidade, mas também um reflexo de sua atemporalidade. As reflexões filosóficas, o humor mordaz e a narrativa inovadora de Machado transcendem barreiras linguísticas e culturais, ressoando em um mundo que ainda luta para entender suas próprias contradições.
O movimento de redescoberta reforça a universalidade de Machado. Ele, que escreveu sobre as complexidades humanas em um Rio de Janeiro do século XIX, agora inspira artistas contemporâneos de outra língua e outro tempo. “Deus sabe o que está fazendo”, como sugere o título de um dos poemas de Lehman, e talvez Machado, de alguma forma, soubesse também.
Por Hermano Araruna