A violência policial no Brasil atinge níveis que destoam significativamente do padrão internacional. Em 2023, policiais civis e militares brasileiros mataram 6.393 pessoas, número quase três vezes maior do que o total registrado em 15 países do G20 somados, que contabilizaram 2.267 mortes no mesmo período.
Esses dados, revelados por levantamento do UOL colocam em evidência a letalidade extrema das forças de segurança no país. Para muitos especialistas, os números refletem não apenas a violência do crime, mas também uma cultura institucional marcada por ações excessivas e impunidade.
Quando se ajusta a análise ao tamanho da população, o abismo entre o Brasil e os demais países se torna ainda mais gritante. A taxa de mortes provocadas por policiais brasileiros é 36 vezes maior que a média dos países analisados. O Brasil lidera com folga esse ranking triste, superando em 7,5 vezes a taxa da África do Sul, o segundo país com maior índice de letalidade policial entre os considerados. Esses dados mostram que o problema no Brasil não é isolado ou regional, mas sistêmico, exigindo uma revisão estrutural das práticas de segurança.
Esses números escancaram a necessidade de uma reflexão urgente sobre o papel e as práticas das forças de segurança no Brasil. A letalidade policial, muitas vezes justificada pelo combate ao crime, revela também falhas estruturais em treinamento, supervisão e políticas públicas de segurança. Além disso, os impactos da violência se refletem de forma desproporcional em comunidades vulneráveis, agravando o sofrimento social e perpetuando ciclos de violência. A sensação de insegurança, paradoxalmente, aumenta em áreas onde a polícia deveria representar estabilidade e proteção.
Embora o debate sobre segurança pública seja complexo, a comparação internacional evidencia que é possível equilibrar a eficiência no combate ao crime com a redução da letalidade. Países com taxas muito inferiores, mesmo enfrentando desafios de segurança semelhantes, demonstram que alternativas mais humanizadas e estratégicas podem ser eficazes. Treinamento em desescalada de conflitos, uso de tecnologias não letais e controle mais especificamente das ações policiais são exemplos práticos que têm dado resultado em outras nações.
O desafio, portanto, não é apenas conter os números alarmantes, mas compensar o modelo de segurança pública no Brasil. O foco em prevenção, diálogo comunitário e uso proporcional da força pode ser o caminho para construir uma sociedade onde a atuação policial não seja aterrorizante. Transformar a realidade brasileira exige coragem política, investimento em mudanças estruturais e, acima de tudo, um compromisso com o respeito à vida de todos os cidadãos.
Por Hermano Araruna