Na noite desta quinta-feira(16), enquanto boa parte dos brasileiros se distraía com mais uma edição do Big Brother Brasil, um movimento estratégico de grandes proporções tomou forma no setor aéreo. Azul e Gol negociaram um memorando de entendimento (MoU) que pode culminar na fusão das companhias, criando uma gigante com 60% do mercado nacional de aviação. O acordo ainda precisa do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O impacto da união é evidente. Em 2023, a Azul operou com 180 aeronaves, transportando 29,3 milhões de passageiros e alcançando um faturamento de R$ 13,7 bilhões até setembro. A Gol, com 138 aviões, levou 30 milhões de passageiros no mesmo período, registrando uma receita de R$ 11,6 bilhões. Juntas, essas empresas concentram mais de 300 aeronaves e um volume de passageiros capaz de redefinir os padrões do mercado doméstico.
Embora ainda enfrentem turbulências financeiras, ambas têm trajetórias complementares. A Azul se destaca em mercados regionais, enquanto a Gol opera em rotas de alta densidade. Para estruturar a fusão, as companhias planejam um modelo de governança compartilhada: o novo conselho será composto por nove membros, três de cada empresa e três independentes.
A operação será alicerçada nos ativos existentes, sem novos transportes de capital. Curiosamente, as marcas continuarão a operar de forma independente, mas com integração suficiente para permitir todos os voos.
Essa transferência foi facilitada por uma renegociação recente de dívidas com o governo brasileiro. A Gol, que tinha um passivo de R$ 5,8 bilhões, renegociou para R$ 880 milhões, enquanto a Azul eliminou seu débito de R$ 2,8 bilhões para R$ 1,1 bilhão. Ambas as dívidas poderão ser quitadas em parcelas ao longo de 120 meses.
O mercado reagiu com desconfiança nos últimos meses: as ações da Gol ($GOLL4) acumularam queda de 76%, enquanto os papéis da Azul ($AZUL4) caíram cerca de 65%. Agora, a expectativa é que o anúncio da fusão traga novos ventos para as duas empresas.
Mais do que uma manobra de sobrevivência, o acordo Azul-Gol reflete o desafio de competir em um setor com margens compressivas e custos elevados. Em meio a um cenário de retomada econômica e mudanças no comportamento dos consumidores, o céu é o limite para uma nova gigante.
Por Hermano Araruna