Um dos símbolos mais potentes da Guerra do Vietnã, a fotografia de “Garota Napalm”, não está no centro de uma controvérsia inesperada. Segundo o documentário The Stringer , exibido no Festival de Sundance, a autoria da imagem pode não ser de Nick Ut, da Associated Press (AP), mas de Nguyen Thanh Nghe, um fotógrafo freelancer vietnamita.
A foto, que registra Kim Phuc, então com 9 anos, fugindo de um ataque de napalm, rendeu a Nick Ut o Prêmio Pulitzer em 1973. No entanto, o filme dirigido por Bao Nguyen apresenta apelos de que o crédito foi atribuído a Ut por decisão editorial. Carl Robinson, que na época era editor de fotografia no escritório da AP em Saigon, afirmou no documentário que recebeu ordens do chefe de fotografia Horst Faas para redigir a legenda creditando a imagem em Ut, apagando o nome de Nguyen Thanh Nghe dos registros.
O debate ganha força com documentos e relatos que apontam a presença do freelancer vietnamita em momentos cruciais do conflito, muitos deles registrados, mas especialmente reconhecidos. Bao Nguyen, em entrevista, destacou que a possível omissão não é apenas sobre uma autoria individual, mas sobre como as narrativas de guerra tendem a obscurecer contribuições locais em favor de vozes ocidentais.
A Associated Press nega veementemente as acusações, afirmando que a autoria de Ut foi confirmada à época e permanece incontestável. Em comunicado, a agência destacou o impacto da fotografia, mas não abordou diretamente as denúncias de Robinson.
A polêmica, no entanto, traz à tona uma reflexão maior: quais histórias foram moldadas pela conveniência de quem as contornou? Nguyen Thanh Nghe, cuja carreira não foi tão documentada, pode ser uma entre muitos nomes invisibilizados por estruturas de poder em contextos de guerra e mídia globais.
Para Phan Thị Kim Phúc, que sobreviveu às queimaduras e se tornou embaixadora da Boa Vontade da UNESCO, o valor da fotografia vai além da autoria. “A imagem abriu portas para diálogos sobre os horrores da guerra. Isso é o que importa”, disse ela em uma entrevista recente.
Por Hermano Araruna
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