Na fronteira entre neurociência e inteligência artificial, um antigo desejo humano começa a tomar forma: a possibilidade de gravar e reproduzir sonhos. Pesquisadores de diversas partes do mundo avançam em tecnologias capazes de traduzir a atividade cerebral durante o sono em imagens e sons, abrindo caminho para o que poderia ser chamado de um “gravador de sonhos”.
Os primeiros passos dessa jornada já foram dados. Em 2012, cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, conseguiram reconstruir imagens vistas por voluntários a partir da leitura de sua atividade cerebral usando ressonância magnética funcional (fMRI). Mais recentemente, em 2023, uma equipe da Universidade de Osaka, no Japão, usou inteligência artificial para recriar imagens com base nos padrões de ondas cerebrais registradas durante o sono.
Ainda não há um dispositivo capaz de gravar sonhos com nitidez cinematográfica, mas a evolução é clara. Modelos de IA treinados para interpretar padrões cerebrais já conseguem reconstruir imagens com base em pensamentos e memórias. O próximo passo é decifrar o que acontece durante o sono REM, estágio em que os sonhos são mais vívidos.
As implicações são imensas. Artistas poderiam encontrar inspiração ao revisitar suas próprias criações oníricas. Psicólogos teriam uma nova ferramenta para entender traumas e distúrbios. Mas os desafios éticos também são evidentes: se um dispositivo como esse chegar ao mercado, como garantir a privacidade dos pensamentos mais íntimos?
O gravador de sonhos ainda não existe, mas não é mais pura ficção científica. A cada avanço na compreensão do cérebro, a fronteira entre imaginação e realidade se torna mais tênue. Se um dia for possível apertar o “play” e assistir ao próprio inconsciente, será que estaremos prontos para o que vamos encontrar?
Por Hermano Araruna
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