O Congresso Nacional se superou mais uma vez. Em um gesto de rara generosidade – para consigo mesmo –, os parlamentares destinaram R$ 50,4 bilhões em emendas. Para quem aprendeu que o espírito natalino havia ficado em dezembro, eis a prova de que, quando se trata do orçamento, sempre há espaço para um presente fora de época.
Dessa bolada, R$ 11,5 bilhões fará um passeio por comissões temáticas, transitando sem muita publicidade. Chamam isso de emenda, mas poderia ser batizado de “presente surpresa”, já que até hoje ninguém conseguiu explicar direito para onde esse dinheiro vai. Transparência, afinal, é um luxo desnecessário quando se tem tanto para gastar.
O grande espetáculo foi selado apenas dois dias depois do ministro do STF Flávio Dino pedir explicação sobre a reincidência na falta de transparência. E a resposta do Legislativo foi clara: não disseram nada, mas aprovaram tudo. A mensagem é simples: podem até perguntar, mas não espere resposta. A arte do silêncio é uma disciplina obrigatória para quem domina os labirintos do poder.
Enquanto isso, o Centrão e a oposição dividem os cofres como bons anfitriões de um banquete sem fim. Governistas e adversários podem brigar na frente das câmeras, mas, nos bastidores, são como velhos amigos repartindo o bolo. Discuta apenas o tamanho da fatia, porque ninguém quer sair de mãos vazias.
A ocorrência dessa aparência faz com que as emendas se tornem sinônimo de algo menos nobre. Não por acaso, há quem veja nelas uma forma engenhosa de canalizar dinheiro público para onde a vista não alcança. E quando o padrinho da verba não quer aparecer, já se sabe: o dinheiro desce pelo ladrão, porque os “espertos” seguem firmes e bem representados no orçamento.
Por Hermano Araruna
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