Muito antes de virar série no streaming e símbolo de rebeldia popular, Maria Bonita já tinha rompido com as convenções. Nascida Maria Gomes de Oliveira em 1911, no sertão da Bahia, ela trocou o papel de dona de casa por uma vida ao lado de Lampião, chefe do cangaço, no meio da caatinga nordestina. Não foi raptada, não foi arrastada — foi por vontade própria.
A jornalista Adriana Negreiros, em seu livro Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, desmonta o mito e reconstitui a mulher de carne, osso e escolhas difíceis. Inteligente, alfabetizada e com faro para sobrevivência, Maria se tornou a primeira mulher a integrar o bando de Lampião por decisão pessoal — em 1929, quando o grupo ainda era território quase exclusivo de homens armados.
A vida ao lado de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, não foi novela de época. Foi seca, poeira, bala e tensão. E, como mostra a nova série do Disney+, Maria e o Cangaço, a história dela não cabe em molduras românticas. Cabe nos vazios que o jornalismo da época ignorou — onde se falava mais das pernas de Maria do que de sua trajetória.
Maria Bonita morreu em 1938, na mesma emboscada que matou Lampião. Não viveu para ver seu nome virar sinônimo de coragem. Mas também não parece que era isso que ela buscava. Ela só queria viver outra vida. E viveu.
Comente sobre o post