Na estrada de Rondônia, entre aldeias, promessas e caminhadas sob sol duro, um cacique e uma ativista atravessam o Brasil sem sair do lugar. “Minha terra estrangeira”, que estreia esta semana, acompanha o cacique Almir Suruí e sua filha, Txai Suruí, durante os 40 dias que antecederam as eleições de 2022. Eles falam com eleitores, conversam com líderes, enfrentam um cansaço que não é só físico – é histórico.
O documentário, codirigido por João Moreira Salles, Louise Botkay e o coletivo indígena Lakapoy, não finge neutralidade: é um retrato íntimo da política como sobrevivência. Almir, então candidato a deputado federal por Rondônia, cruza territórios onde placas de campanha disputam espaço com cercas elétricas. Txai, ativista conhecida internacionalmente, anda lado a lado com ele, mas seu discurso vai além das urnas.
O título do filme não é metáfora: é geografia. Para muitos povos indígenas, o Brasil é um país vizinho. Falam português com a fluência de quem teve que aprender rápido, mas pensam em línguas que não cabem em palanques. “Somos tratados como estrangeiros dentro da nossa própria terra”, resume Txai, em uma das falas mais secas e certeiras do filme.
“Minha terra estrangeira” não busca heróis nem vilões. Mostra o cotidiano como ele é: com celulares descarregando no meio do mato, reuniões interrompidas por chuva, e silêncios longos, que dizem mais que discursos. Em um momento, Almir pergunta se vale a pena continuar. Em outro, já está discursando para uma roda de crianças.
Entre o registro político e o diário familiar, o filme entrega algo raro: uma campanha que não se encerra com a apuração dos votos. Porque para os Suruí, perder não é uma opção. E ganhar, bom… ganharemos quando chegar por aqui.
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