No Brasil, até o ato nobre de esperar o sinal abrir virou algo assombroso. Segundo o Datafolha, o brasileiro médio tem mais medo de ser assaltado do que de errar o CPF na nota em dia de fila grande. E se o som de uma moto se aproxima, pronto: é como se a trilha sonora de um filme de terror começasse a tocar no fundo da cabeça.
55% das pessoas disseram sentir “muito medo” nesse momento. Os outros 45% provavelmente só não responderam porque estavam correndo para dentro de algum comércio fingindo que “esqueceram algo”.
Usar o celular na rua, então? Quase uma roleta russa digital. Dá vontade de avisar no grupo da família: “gente, tô digitando isso em ambiente controlado, cercado de testemunhas e câmeras de segurança”. Esperar por transporte público também entrou na lista do medo — e não só pelo atraso.
Curiosamente, a atividade com menos pânico associado é comer em algum restaurante. Mas ainda assim, quase um terço dos brasileiros admite que fica com um olho no garfo e o outro na porta. Comer em paz, no Brasil, virou privilégio gourmet.
As mulheres, os mais velhos e quem tem menos renda relatam mais medo em tudo. Como se já não bastassem os boletos, agora é preciso driblar o medo em cada esquina. O país que deveria treinar atletas está formando especialistas em andar olhando para trás.
E pensar que tudo isso acontece sem que a maioria tenha passado por uma situação concreta de assalto. É o medo preventivo, nosso novo manual de sobrevivência urbana. Uma espécie de sexto sentido tropical: o radar do “vai dar ruim” que já vem instalado de fábrica.
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