Carlos Kaiser não foi um jogador de futebol. Ele apenas fingiu ser um — com talento digno de Oscar. Num país obcecado por craques, ele se destacou por ser justamente o oposto: um atacante que passou por diversos clubes… sem jamais ter jogado uma partida oficial.
Na ficha técnica, Kaiser era um centroavante promissor, forte, veloz, com passagem por grandes clubes como Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, Bangu, e até uma pontinha no exterior. Na prática, era um especialista em se machucar no primeiro treino, pedir repouso ao fisioterapeuta e garantir uns meses de salário na boa e velha resenha de vestiário.
Kaiser tinha um dom: falar. Sabia o que dizer, como dizer, e principalmente para quem dizer. Era amigo de jornalistas esportivos, que o promoviam como futura promessa. Amigo de jogadores famosos, que o indicavam de olhos fechados. Amigo de cartolas crédulos, que achavam que estavam contratando um novo Zico — e acabavam levando um novo golpe.
Ligação inventada em francês com “clubes europeus” e lesões súbitas que só o tornavam indisponível para o campo, nunca para o churrasco: Kaiser transformou o blefe em carreira. Jogar bola? Jamais. Mas dançar lambada com dirigentes na concentração? Com gosto.
Quando, por algum infortúnio do destino, parecia que ele teria que entrar em campo, sempre surgia uma distensão misteriosa, uma troca de socos com a torcida (sim, ele simulou uma briga para ser expulso antes de estrear pelo Bangu) ou uma nova desculpa vinda do além.
Durante anos, enganou clubes, treinadores, torcedores — e fez isso com um sorriso no rosto, como quem dizia: “Se ninguém perguntar, ninguém saberá.”
Carlos Kaiser virou lenda não por seus gols (que não existem), mas por ter feito do futebol um palco onde encenou a peça mais longa da sua vida: a de um jogador profissional que nunca jogou.
No fim das contas, talvez ele tenha mesmo sido o maior atacante da história. Atacou a lógica, o sistema e, principalmente, o caixa dos clubes.
E venceu.
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