No Prime Video, o filme “Conclave” mergulha no processo de escolha de um novo papa com o ritmo de um thriller e a ambição de um documentário. A proposta é clara: traduzir para o público leigo um dos rituais mais fechados da Igreja Católica — e, segundo especialistas, o longa cumpre bem a missão.
Baseado em pesquisa cuidadosa, “Conclave” dribla a falta de colaboração oficial do Vaticano com uma estratégia paralela: entrevistas com cardeais, visitas técnicas ao território papal e uma réplica da Capela Sistina erguida nos Estúdios Cinecittà, em Roma. O filme busca ser fiel ao procedimento e às tensões internas que cercam a escolha do sucessor de Pedro.
Para Kathleen Sprows Cummings, historiadora do catolicismo na Universidade de Notre Dame, o esforço se reflete em detalhes que não escaparam à produção. “Eles capturaram muita coisa com precisão”, avalia. Ainda assim, o retrato das disputas internas pode soar mais cinematográfico do que eclesial.
William Cavanaugh, professor na Universidade DePaul, aponta que o filme recorre a uma fórmula comum: dividir os cardeais entre blocos ideológicos bem definidos. Na prática, explica ele, a realidade costuma ser menos organizada. “É uma mistura. Não existe esse alinhamento perfeito entre conservadores e progressistas”, diz.
A crítica, no entanto, vem acompanhada de uma ressalva: apesar das caricaturas, há um fundo de verdade. O filme exagera nos contornos, mas não inventa do zero. É ficção, sim, mas com cheiro de incenso.
“Conclave” talvez não revele todos os bastidores do Vaticano, mas oferece uma experiência próxima do que se pode imaginar — sem precisar usar batina ou saber latim.
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