Quando se diz que a Igreja pensa em séculos, talvez ninguém esteja se referindo ao conclave de 1268. Mas bem que poderia. Naquela ocasião, a eleição do novo papa durou exatos 2 anos, 9 meses e 2 dias. Sim, os cardeais passaram quase três anos tentando decidir quem ocuparia o trono de Pedro. E nem era por falta de nomes — era por excesso de política, influência externa e, claro, a velha arte de não concordar com ninguém.
O impasse começou em Viterbo, na Itália, após a morte do Papa Clemente IV. Como não havia um consenso, e como os cardeais não estavam exatamente com pressa, o povo e as autoridades locais decidiram dar uma forcinha: trancaram os eclesiásticos dentro do palácio, tiraram o teto e limitaram a comida. Nada como um pouco de pressão atmosférica (e fome) para inspirar decisões celestiais.
O constrangimento foi tanto que, anos depois, no 2º Concílio de Lyon, a Igreja oficializou novas regras para os conclaves: nada de vida boa, nada de passeio no jardim e, principalmente, nada de tempo indefinido. O objetivo era simples — obrigar os senhores cardeais a escolher o novo líder espiritual antes que a luz do Espírito Santo virasse velinha de aniversário.
Desde então, o conclave ganhou contornos mais controlados. Isolamento completo, comunicação externa cortada, juramentos de sigilo, e até sistemas de fumaça para informar ao mundo se saiu ou não fumaça branca — tudo isso para garantir que o processo pareça, no mínimo, sério. E funciona: desde João Paulo II, houve um esforço para dar ao conclave um ar mais transparente. Pelo menos, até onde o segredo milenar da Igreja permite.
O nome “conclave”, aliás, vem do latim cum clave, ou “com chave”, porque, sim, os cardeais são literalmente trancados. Uma metáfora encantadora para decisões espirituais que, vez ou outra, mais parecem capítulos de uma novela política.
No fim das contas, o processo que define quem será o próximo papa é uma mistura de tradição, estratégia e longas esperas. Porque, às vezes, o Espírito Santo também precisa de tempo para se decidir — ou, ao menos, é o que dizem quando os cardeais demoram demais.
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