Chega hoje em alguns cinemas do Brasil, o filme “Sobreviventes”, última obra do cineasta José Barahona, que faleceu em novembro passado. O filme, uma coprodução entre Brasil e Portugal, resgata um episódio pouco conhecido do século 19: um naufrágio que lançou à própria sorte, numa ilha remota, fidalgos portugueses e pessoas escravizadas africanas.
Com roteiro assinado por Barahona e pelo escritor José Eduardo Agualusa, o longa aposta menos no espetáculo da tragédia e mais na tensão humana que emerge do isolamento. Longe da estrutura rígida da sociedade colonial, os personagens precisam não apenas lutar contra a natureza, mas também, decidir o que fazer com as hierarquias que trouxeram consigo.
A ilha, inicialmente cenário de desespero, torna-se palco de embates profundos sobre poder, identidade e sobrevivência. A convivência forçada revela não só o conflito entre classes, mas também as contradições de cada um diante da possibilidade de recomeço.
Barahona, conhecido por seu olhar sensível sobre temas sociais, deixa em “Sobreviventes” uma obra que provoca sem didatismo. O filme evita simplificações ao tratar de um grupo lançado em um espaço sem leis, onde a escolha entre repetir o passado ou construir algo novo torna-se inevitável.
Mais do que um drama histórico, “Sobreviventes” propõe uma pergunta atual: o que fazemos com as estruturas de poder quando elas deixam de ser impostas? A resposta, como sugere o filme, talvez diga mais sobre nós do que sobre o tempo em que vivemos.
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