Em meio à cultura do otimismo, surge um alerta: tentar animar alguém em crise de ansiedade pode, muitas vezes, agravar seu estado emocional. A tentativa de “ver o lado bom das coisas” — embora bem-intencionada — pode ser interpretada pela pessoa ansiosa como invalidação de seus sentimentos, aumentando ainda mais o desconforto.
Segundo a American Psychological Association (APA), a ansiedade é uma resposta real do corpo a ameaças percebidas, e minimizar essa percepção pode gerar mais isolamento e culpa. “O cérebro ansioso já está operando sob uma sensação intensa de ameaça. Ouvir que deveria apenas ‘pensar positivo’ pode soar como uma negação dessa dor legítima”, explica a psicóloga clínica Julia Breur, especialista em transtornos de ansiedade.
Estudos recentes publicados no Journal of Anxiety Disorders reforçam essa ideia: abordagens excessivamente otimistas podem ativar reações de autocrítica em pessoas ansiosas, que passam a se culpar por não conseguirem “melhorar” rapidamente. Em vez de alívio, isso alimenta um ciclo de estresse.
A psiquiatra brasileira Ana Beatriz Barbosa Silva, autora de “Mentes Ansiosas”, destaca que o apoio mais eficaz é reconhecer o sofrimento do outro sem tentar remendá-lo com frases prontas. “Dizer ‘entendo que você está sofrendo’ ou simplesmente estar presente, em silêncio, muitas vezes tem um efeito muito mais terapêutico do que palavras motivacionais”, afirma.
A escuta ativa e a validação emocional, segundo a especialista, são estratégias mais acolhedoras. Elogiar a coragem da pessoa em compartilhar seu sofrimento, perguntar como ela gostaria de ser ajudada ou até mesmo oferecer companhia são atitudes que respeitam o tempo e os limites de quem enfrenta a ansiedade.
Quando procurar ajuda especializada
Apesar da boa vontade de familiares e amigos, quadros persistentes de ansiedade exigem suporte profissional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 300 milhões de pessoas no mundo convivem com transtornos de ansiedade, o que faz desse o distúrbio mental mais comum globalmente. Terapias como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) têm alto índice de eficácia no tratamento.
Portanto, diante de alguém ansioso, o gesto mais solidário pode não ser o de animar — mas o de acolher, ouvir e, se necessário, orientar a busca por ajuda especializada.
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