No Brasil de 2025, saber ler e escrever ainda não é sinônimo de compreensão. Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado nesta segunda-feira (5), três em cada dez brasileiros entre 15 e 64 anos são considerados analfabetos funcionais — ou seja, têm grandes dificuldades para entender frases simples, interpretar textos curtos ou realizar operações matemáticas básicas.
O dado, que representa 29% da população nessa faixa etária, permanece estagnado desde 2018, ano da última edição do estudo. No entanto, um novo alerta surge: entre os jovens de 15 a 29 anos, o índice de analfabetismo funcional subiu de 14% para 16%. Para os pesquisadores, esse aumento pode estar relacionado aos efeitos da pandemia, período em que o fechamento das escolas comprometeu o aprendizado de milhões de estudantes.
O Inaf também revela que a maioria da população se encontra em níveis considerados baixos de domínio da linguagem e da matemática. Cerca de 36% estão no nível “elementar” — conseguem interpretar textos médios e resolver operações básicas — enquanto apenas 10% atingem o nível “proficiente”, o mais alto da escala, capaz de compreender textos complexos e resolver problemas com múltiplas variáveis.
Os dados foram coletados entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, com base em testes realizados por 2.554 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro varia entre dois e três pontos percentuais.
A pesquisa, retomada após seis anos de interrupção, evidencia mais que números: aponta para um desafio estrutural. O analfabetismo funcional compromete o pleno exercício da cidadania, limita oportunidades de trabalho e fragiliza o debate público. Saber ler não basta — é preciso entender o mundo que as palavras descrevem.
Num país que carrega um histórico de desigualdade educacional, o dado não é apenas um diagnóstico técnico, mas um convite urgente à ação. É no cotidiano, nos livros que faltam, nas escolas que não alcançam, nas políticas que não se sustentam, que se molda o futuro de quem ainda lê sem compreender.
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