A volta da popularidade dos bebês reborn — bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos em detalhes como peso, textura de pele e até cheiro — tem chamado atenção não apenas pelo apelo estético, mas sobretudo por suas implicações emocionais. O fenômeno, que já teve auge no início dos anos 2000, ressurge com força em redes sociais, feiras especializadas e até grupos de apoio psicológico, despertando debates sobre o impacto afetivo e simbólico desses objetos.
Os reborns são, para muitos, mais do que brinquedos. Há quem os adote como forma de conforto diante de experiências de perda gestacional, infertilidade, solidão ou traumas emocionais diversos. Em contextos clínicos, especialistas em saúde mental reconhecem seu uso como instrumento terapêutico, especialmente para idosos em tratamento de Alzheimer ou pessoas em luto. Nesses casos, a boneca pode funcionar como elemento de conexão emocional e estímulo cognitivo.
No entanto, o uso dos bebês reborn também levanta questionamentos. Quando o vínculo ultrapassa o limite simbólico e se torna substitutivo de relações humanas, o objeto deixa de ser recurso e passa a ser sintoma. O cuidado excessivo com a boneca — como simular amamentação, sair com ela para passeios ou criar perfis em redes sociais — pode indicar uma tentativa inconsciente de preencher lacunas emocionais profundas, muitas vezes não elaboradas ou sequer reconhecidas.
A psicanálise aponta que objetos transicionais — como pelúcias e bonecos — são comuns na infância e cumprem um papel importante no desenvolvimento emocional. Na vida adulta, no entanto, o retorno a esses objetos pode sinalizar uma regressão ligada à busca por segurança diante de um mundo cada vez mais instável, solitário e performático. As redes sociais potencializam esse fenômeno, ao normalizar comportamentos que, em outros contextos, poderiam indicar sofrimento psíquico.
Isso não significa, necessariamente, patologizar todos os adultos que interagem com bebês reborn. Como qualquer expressão cultural ou afetiva, o uso dessas bonecas precisa ser entendido em sua singularidade. Para alguns, é arte; para outros, hobby; para muitos, válvula de escape. O ponto central está na escuta: o que essa relação revela sobre o sujeito e suas necessidades?
Mais do que julgar o comportamento, é urgente ampliar o debate sobre saúde emocional, solidão e carência de vínculos significativos. Em uma sociedade onde o afeto é cada vez mais digitalizado e a dor emocional muitas vezes é silenciada, a popularização dos bebês reborn talvez diga menos sobre moda e mais sobre um grito silencioso por acolhimento.
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