Nos últimos cinco anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem mostrado um aumento expressivo na realização de exames para o diagnóstico de glaucoma, uma doença que, se não detectada a tempo, pode levar à perda irreversível da visão. O número de exames saltou de 1,3 milhões em 2019 para mais de 2,2 milhões em 2024, o que representa um crescimento de 63%. Esse avanço, no entanto, esconde uma realidade desigual: enquanto algumas regiões do Brasil aumentaram significativamente a realização desses exames, outras ainda enfrentam grandes dificuldades.
O Sudeste, por exemplo, foi a região com o maior crescimento, de 116%, liderado pelos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esses números refletem a maior disponibilidade de serviços de saúde e a melhor infraestrutura da região. Por outro lado, o Nordeste, com destaque para estados como Pernambuco, viu um crescimento muito mais modesto, de apenas 24%, revelando uma disparidade no acesso ao diagnóstico precoce. Nos estados mais remotos, como Amapá e Acre, a situação é ainda mais crítica, com números de exames que mal atingem a casa das centenas.
A falta de equidade no acesso a esses exames pode ter um impacto direto na qualidade de vida dos pacientes. O glaucoma, uma doença silenciosa, muitas vezes não apresenta sintomas nas fases iniciais, o que dificulta seu diagnóstico e retarda o tratamento. Isso pode resultar em complicações mais graves e no aumento dos custos médicos a longo prazo. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) destaca que, embora os avanços sejam visíveis, a diferença de ritmo entre as regiões mostra que é preciso ampliar os esforços para que todos os brasileiros tenham acesso a uma detecção precoce e eficaz.
O desafio não está apenas em aumentar o número de exames, mas também em melhorar a distribuição dos recursos de saúde. Em regiões como o Norte e o Nordeste, onde a infraestrutura é mais limitada, o acesso a especialistas e ao diagnóstico adequado ainda é um obstáculo significativo. É nesse contexto que se inserem iniciativas como a Política de Combate à Cegueira e o Programa de Atenção ao Paciente Portador de Glaucoma, ambos garantidos pelo SUS. Porém, como observa o CBO, a efetividade dessas políticas depende da capacidade de levar os serviços de saúde a todos os cantos do país, de forma descentralizada e eficiente.
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