Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, em São Francisco, trouxe novas evidências sobre os impactos do uso frequente da maconha na saúde do coração. Segundo os pesquisadores, mesmo entre pessoas consideradas saudáveis, o uso regular da substância — seja fumada ou ingerida em alimentos — está associado a alterações vasculares semelhantes às provocadas pelo tabaco.
A pesquisa acompanhou 55 participantes, divididos em três grupos: usuários regulares de maconha fumada, consumidores frequentes de comestíveis com THC e não usuários. Utilizando exames de ultrassom para avaliar a função arterial, os cientistas observaram que os dois primeiros grupos apresentaram uma redução significativa na capacidade dos vasos sanguíneos de se dilatarem — um dos primeiros sinais de comprometimento cardiovascular.
Além da análise clínica, amostras de sangue revelaram que, entre os usuários de maconha, há uma redução na produção de óxido nítrico pelas células endoteliais — substância crucial para a regulação do fluxo sanguíneo e a proteção contra inflamações vasculares. Essa alteração, segundo os pesquisadores, pode estar diretamente relacionada ao risco aumentado de pressão alta, infartos e AVCs a longo prazo.
“É um alerta importante para o uso recreativo, especialmente em contextos onde a legalização pode dar uma falsa impressão de inocuidade”, afirmou o médico Matthew Springer, líder da pesquisa. Ele destaca que, embora o estudo ainda não possa concluir que o uso de cannabis leve diretamente a doenças cardíacas, os resultados sugerem um caminho preocupante, sobretudo quando há consumo frequente e de produtos com alta concentração de THC.
O debate sobre os efeitos da cannabis na saúde cardiovascular ainda está em curso. Uma revisão de 2023 publicada no Journal of the American College of Cardiology também chamou atenção para possíveis associações entre o uso da substância e o aumento de arritmias, especialmente entre jovens adultos.
Com o crescimento do mercado de cannabis recreativa e medicinal, os autores do estudo defendem que a discussão sobre os riscos à saúde deve acompanhar a expansão do acesso. Para os especialistas, transparência nas informações e acompanhamento médico são essenciais para evitar que o uso de uma substância com potencial terapêutico se torne fator de risco silencioso.
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