Em 2025, o Brasil finalmente fez justiça histórica a uma das mais persistentes manifestações musicais do país — aquela que sobreviveu ao preconceito estético, às críticas de “bom gosto” e, principalmente, às madrugadas de coração partido. Sancionada pelo presidente Lula, a Lei nº 15.136/2025 criou o Dia Nacional do Brega, a ser celebrado anualmente em 14 de fevereiro, data que, com toda a ironia possível, coincide com o Dia de São Valentim — padroeiro dos apaixonados e dos desiludidos, dois públicos-alvo clássicos do gênero.
A data também marca o nascimento de Reginaldo Rossi, ícone maior do estilo, cuja carreira foi dedicada a transformar dor de cotovelo em sucesso radiofônico. “Garçom”, “A Raposa e as Uvas” e outras pérolas do seu repertório embalaram mais términos de namoro do que qualquer terapeuta de casal ousaria contabilizar.
O projeto de lei, relatado pela senadora Augusta Brito (PT-CE), passou sem maiores escândalos pela Comissão de Educação e Cultura do Senado, um feito notável considerando-se que, por décadas, o brega foi ignorado pelas instituições culturais — possivelmente por não caber nas pautas de curadoria de museus ou nos almoços de domingo da elite musical.
Mas o reconhecimento do brega como patrimônio cultural não veio sem drama — o que, convenhamos, seria um desrespeito ao próprio espírito do gênero. Antes mesmo da tinta da sanção presidencial secar, o senador Beto Faro (PT-PA) contestou outro projeto que pretendia coroar Recife como Capital Nacional do Brega. Segundo ele, esquecer Belém nessa equação seria como fazer feijoada sem feijão: o Pará, afinal, declarou o brega como patrimônio imaterial em 2021 e há décadas dita o ritmo de festas e aparelhagens no Norte do país.
A rivalidade entre Pernambuco e Pará por protagonismo no brega é antiga, mas a oficialização do Dia Nacional do Brega ao menos reconhece que o estilo não é regional: é continental. Popularizado nas periferias urbanas e nas ondas do rádio AM, o brega driblou a indiferença acadêmica e o desprezo dos puristas para se tornar o que sempre foi — a trilha sonora de milhões de vidas normais, cheias de saudade, ciúme, reconciliações e recaídas.
Agora, com direito a data oficial, o brega pode parar de pedir licença para entrar nas pautas culturais e assumir o palco com luz própria — mesmo que seja aquele iluminado por lâmpadas fluorescentes de um bar de esquina, com um microfone e voz desafinados e uma fila de corações partidos esperando sua vez no karaokê.
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