Depois de décadas de seringas, campanhas sanitárias e reuniões que dariam um bom enredo de burocracia agropecuária, o Brasil finalmente pode guardar as agulhas. Pela primeira vez na história, o país foi reconhecido como livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). O anúncio veio direto de Paris, durante a 92ª Assembleia da entidade, com direito a tapete vermelho sanitário e muitos sorrisos diplomáticos.
A febre aftosa, velha conhecida dos pecuaristas, é uma daquelas doenças virais que ninguém convida para o churrasco: altamente contagiosa, com potencial para travar exportações e arruinar reputações comerciais. Por isso, a vitória brasileira não é só simbólica. Ela representa uma virada de página após mais de 30 anos de controle rigoroso, campanhas de vacinação em massa e monitoramento que faria inveja a muito setor de tecnologia.
Agora, sem a necessidade de vacinar os rebanhos, o país se candidata com mais força a mercados que antes torciam o nariz para a carne verde-amarela. Japão, Indonésia e Filipinas estão entre os destinos que exigem status sanitário de excelência — e que podem finalmente abrir suas portas para o produto brasileiro. Não por bondade, mas por exigência técnica, claro.
A mudança também tem impacto direto na economia. Exportar carne a preços mais altos, com maior valor agregado, significa colocar o Brasil em uma prateleira diferente no comércio global. Menos “boi commoditie”, mais “boi boutique”, por assim dizer.
Mas como nada no Brasil vem sem uma ponta de controvérsia, a conquista levanta novas questões: haverá pressão interna para manter a vigilância sanitária sem a muleta da vacina? E mais importante: a estrutura de fiscalização conseguirá acompanhar o novo patamar exigido?
Por ora, o reconhecimento da OMSA serve como chancela de que, sim, o Brasil é capaz de conduzir políticas públicas sérias no campo sanitário — mesmo que isso tenha exigido três décadas, toneladas de papelada e uma paciência de rebanho.
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