O varejo brasileiro vive uma contradição curiosa: nunca teve tanto acesso a dados sobre clientes, mercado e concorrência — e nunca pareceu tão incerto sobre como usá-los. Uma pesquisa recente conduzida pela Cielo com 210 varejistas de diferentes portes revela um setor ainda em fase de aprendizado no que diz respeito ao uso estratégico da informação.
Segundo o levantamento, 38% dos entrevistados admitem olhar apenas para os dados internos, ou seja, para números gerados exclusivamente dentro de seus próprios negócios. Apenas 18% afirmam considerar também os dados de mercado — como tendências setoriais, comportamento de consumo e análises comparativas. Mas o dado mais emblemático talvez esteja em outro ponto: 54% apontam que o principal obstáculo não está na tecnologia ou no acesso aos dados, mas na conscientização da equipe sobre como lidar com eles.
O retrato é de um setor em transição. O varejista médio já entende que precisa de informação para tomar melhores decisões, mas ainda lida com um ambiente prático onde a urgência do dia a dia costuma sobrepor o planejamento analítico. “A informação está lá, mas muitas vezes ela vira só mais um número, sem contexto e sem ação”, comenta um consultor da área de inteligência comercial.
Nesse cenário, soluções tecnológicas precisam ir além da simples coleta de dados. A aposta da própria Cielo tem sido em equipamentos e plataformas que tragam esse raciocínio analítico já embutido na operação. Uma das novidades da empresa, por exemplo, é uma maquininha com recursos integrados que vão além do pagamento: oferece cardápio digital, relatórios de desempenho, funcionalidades de gestão e, principalmente, liquidação no mesmo dia — algo que atende a uma dor clássica do pequeno varejo: o fluxo de caixa.
O discurso da marca, nesse caso, tenta dialogar com uma realidade concreta: a de lojistas que querem usar dados, mas não têm tempo ou estrutura para plataformas complexas. Segundo a Cielo, a proposta é oferecer tecnologia que simplifique, e não que exija mais um aprendizado técnico.
Em um momento em que o comportamento do consumidor muda rapidamente — e em que personalização e agilidade se tornaram expectativas básicas — o desafio não é só ter dados, mas fazer com que eles façam sentido na prática. Para isso, talvez o varejo precise repensar menos os sistemas e mais a cultura que os opera. Afinal, de que serve uma prateleira cheia de ferramentas, se ninguém sabe qual delas usar?
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