Pouco tempo após sua exibição nas salas de cinema, Homem com H, cinebiografia de Ney Matogrosso, desembarcou no catálogo da Netflix nesta terça-feira (17). O longa, que percorre mais de sete décadas de vida e arte de um dos artistas mais provocadores da música brasileira, agora pode ser visto por milhões de espectadores em casa — uma extensão natural da trajetória de um artista que sempre desafiou fronteiras.
Dirigido por Esmir Filho, o filme não se limita a contar a vida de Ney em ordem cronológica. Em vez disso, constrói uma narrativa entrelaçada de lembranças, performances e conflitos que ajudam a entender como o menino tímido de Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, se tornou um dos maiores ícones da música e da contracultura nacional.
A atuação de Jesuíta Barbosa no papel principal vai além da imitação física: ele se apropria do corpo e da intensidade de Ney para traduzir um artista que nunca se encaixou em moldes fáceis. Jesuíta, que recentemente brilhou em Pantanal, assume a missão de dar vida a momentos marcantes — desde os tempos no grupo Secos & Molhados até a carreira solo marcada por ousadia estética e política.
O roteiro mergulha também nas sombras da vida pessoal: a rigidez do pai militar, os amores vividos à margem das convenções sociais e os silêncios impostos pela ditadura. O filme escapa do formato chapa-branca e arrisca abordar contradições e fragilidades que ajudaram a forjar a persona que Ney projetou nos palcos — sempre entre a delicadeza e o enfrentamento.
No elenco, nomes como Hermila Guedes, Julio Reis e Bruno Montaleone ajudam a compor o mosaico de relações que cercam Ney ao longo dos anos. A ambientação cuidadosa de diferentes épocas e a trilha sonora — que, claro, não poderia deixar de lado clássicos como “Rosa de Hiroshima” e “Homem com H” — ampliam o mergulho no tempo e no imaginário do artista.
A chegada à Netflix não é apenas um movimento de distribuição: é também a chance de fazer com que novas gerações conheçam, ou revisitem, a história de alguém que ousou cantar, vestir-se e existir de forma livre em tempos em que isso custava caro.
No fim das contas, Homem com H é menos um retrato fechado e mais um convite à descoberta. Ney Matogrosso nunca coube em rótulos. O filme, felizmente, também não tenta colocá-lo em nenhum.
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