Nem o Vaticano escapou do cheiro de café requentado da treta envolvendo o padre Fábio de Melo e o ex-gerente de uma unidade da Havanna em Joinville (SC). O caso, que começou com uma confusão sobre um doce de leite, foi parar em instâncias celestiais: um bispo catarinense, mais atento ao Twitter que ao missal, levou o episódio à Congregação para a Doutrina da Fé — órgão da Igreja Católica que, no passado, mandava queimar hereges e, hoje, recebe denúncias mais brandas, como a de padres que viralizam no Instagram.
Segundo o jornalista Ricardo Feltrin, o bispo não gostou do comportamento do padre-influenciador e resolveu registrar a bronca com Roma. A alegação? Faltou caridade cristã no trato com o agora ex-gerente, Jair José Aguiar da Rosa. A denúncia, ao que tudo indica, não resultará em excomunhão ou castigo divino, mas já deixou uma marquinha no currículo do religioso — dessas que não saem nem com indulgência plenária.
A história teve início com um vídeo divulgado nas redes sociais que envolvia uma suposta má vontade no atendimento ao padre — ou a um amigo “bombadinho de regata vermelha”, segundo o próprio Jair, que até hoje não entende por que virou o centro do furacão. “Nem falei com ele, nem ele falou comigo”, disse o ex-gerente, em entrevista ao programa Tá na Hora, do SBT, no dia 29 de maio. Mesmo sem protagonismo na cena, ele acabou demitido.
Desde então, sua vida virou um pós-feriado de domingo: depressão diagnosticada, faculdade trancada a três meses da formatura, e medo de sair na rua. “A vergonha é muito grande”, desabafou. Ele ainda move duas ações: uma cível contra o padre e outra trabalhista contra a empresa. A Havanna, por sua vez, decidiu agir rápido — ao menos na hora de cortar vínculos — e, segundo o advogado de Jair, jogou o colaborador na fogueira para tentar se livrar da crise de imagem.
Diante da avalanche digital, padre Fábio divulgou uma nota em tom conciliador, lembrando que vive “para servir”, que não deseja “vingança” e que está em paz com a consciência — ainda que agora sob observação da Congregação fundada para manter a ortodoxia da fé e, por que não, da etiqueta eclesiástica. O mesmo órgão que, no passado, teve Joseph Ratzinger (o papa Bento XVI) como comandante, agora analisa tretas de cafeteria.
Talvez o que mais impressione nesse episódio seja a escalada do drama: começou com um atendimento atravessado e terminou em denúncia internacional. Tudo isso em nome de um doce de leite. No fundo, resta ao público o desconforto de assistir, de longe, a mais uma colisão entre fama, fé e exposição digital. E, para o Vaticano, fica a dúvida: quem julga os julgadores — e quem limpa a mesa depois que a polêmica é servida?
Comente sobre o post