Imagine um bolinho que desafia as regras — e ainda entrega sabor e textura como poucos. Direto dos quilombos do Vale do Ribeira, no sul de São Paulo, essa receita foi apresentada pela chef e pesquisadora Aline Guedes, que há anos mergulha nas raízes culinárias de comunidades quilombolas. E o resultado é, no mínimo, instigante.
Aqui, não entra farinha, nem ovo. O que segura a onda é o próprio inhame, com sua goma natural fazendo as vezes de cola, sem pressa, com simplicidade. Por fora, o bolinho ganha aquela crocância que a gente persegue na frigideira quente; por dentro, uma cremosidade suave, quase inesperada. E aí vem o toque final: salsinha e cebolinha frescas, pontuando o sabor com um frescor que contrasta lindamente com a untuosidade do inhame.
É cozinha de resistência, sim, mas também de afeto. Uma receita passada de geração em geração, que se sustenta não só pela técnica, mas pela memória — da terra, da luta, da mesa compartilhada. Nada ali é por acaso. É comida que respeita o tempo, os ingredientes e a história.
E é isso que faz desse bolinho mais que um petisco: ele é um capítulo inteiro da culinária brasileira, contado em poucas mordidas.
Ingredientes do Bolinho
4 xícaras (chá) de inhame ralado grosso (aproximadamente 500 g ou 5 unidades médias)
Salsinha e cebolinha bem picadinhas (quantidade a gosto)
Sal a gosto
Óleo suficiente para fritar (cerca de 3 xícaras)
Como fazer
Prepare o inhame: Comece descascando os inhames. Depois, rale cada um usando o lado grosso do ralador — aquele ideal pra legumes. Coloque o inhame ralado numa tigela grande.
Ative a liga natural: Agora é a hora de usar as mãos. Amasse bem o inhame, apertando com os dedos. Isso vai liberar a goma que vai dar a estrutura do bolinho. Não precisa adicionar mais nada para “dar liga”.
Tempere: Acrescente sal, salsinha e cebolinha picadas e misture tudo. Não precisa exagerar — o charme está no frescor das ervas realçando o sabor do inhame.
Hora da fritura: Esquente o óleo em uma panela funda, em fogo médio. Enquanto o óleo aquece, forre uma travessa com papel-toalha para escorrer os bolinhos depois.
Modele os bolinhos: Com duas colheres (sopa), molde pequenas porções no formato de quenelles (como se estivesse formando um croquete oval com as colheres). Vá colocando com cuidado no óleo quente.
Frite até dourar: Deixe os bolinhos dourarem por fora e ficarem crocantes. Depois, retire com uma escumadeira e coloque sobre o papel-toalha. Repita o processo até terminar a massa.
Sirva quentinho: Eles ficam deliciosos com um molho de pimenta artesanal. E aqui vai uma receita especial pra isso:
Molho de Pimenta Fresco com Coentro
Esse molho é o par perfeito dos bolinhos: levemente picante, cheio de sabor e com um frescor que vem das folhas de coentro no final. Dá pra deixar mais grosso ou mais fluido, você escolhe o ponto.
Você vai precisar de:
1 xícara (chá) de tomate picado em pedaços grandes
¾ de xícara (chá) de pimentão vermelho, também em pedaços grandes
⅓ de xícara (chá) de cebola em pedaços grandes
1 dente de alho inteiro
1 pimenta-malagueta em conserva (ou mais, se quiser mais ardido)
Folhas de coentro frescas a gosto
Sal a gosto
Água filtrada (o suficiente para dar o ponto)
Modo de preparo:
Coloque o tomate, o pimentão, a cebola, o alho e a pimenta no processador.
Bata até ficar bem triturado. Vá adicionando a água aos poucos, até chegar na textura que preferir: mais encorpado ou mais leve.
Por último, junte as folhas de coentro e dê uma batida rápida, só pra misturar sem perder o frescor da erva.
Acerte o sal e sirva junto com os bolinhos.
Dica final: esse bolinho também vai bem como entrada, lanche ou até acompanhamento para uma refeição leve. E o molho? Pode guardar na geladeira por até 5 dias.
Com poucos ingredientes, mas com muita história, essa receita traz a tradição de comunidades quilombolas para dentro da sua cozinha — com sabor, memória e um toque de afeto.
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