Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como uma doença crônica, o alcoolismo continua cercado de estigma, desinformação e silêncio. Enquanto os dados apontam para consequências graves — físicas, psíquicas e sociais —, o discurso público muitas vezes insiste em tratar o transtorno como mera falta de força de vontade.
O transtorno por uso de álcool é multifatorial. Envolve predisposição genética, ambiente social, traumas psicológicos e alterações cerebrais concretas no sistema de recompensa. Não é questão de querer ou não parar. A dependência interfere no controle do consumo, reorganiza prioridades e, em muitos casos, domina por completo o cotidiano do indivíduo.
As estatísticas são duras: o consumo excessivo de álcool está relacionado a mais de 200 doenças e agravos, incluindo cirrose hepática, pancreatite, câncer e doenças cardiovasculares. No campo da saúde mental, os impactos são igualmente severos. Transtornos de ansiedade e depressão aparecem com frequência, assim como distúrbios do sono, comportamento agressivo e aumento no risco de suicídio.
Fora do corpo e da mente, o álcool também cobra um preço social. Lares desfeitos, violência doméstica, acidentes de trânsito, desemprego, rupturas afetivas. São efeitos colaterais que afetam não apenas quem bebe, mas todos ao redor.
Apesar do peso do problema, o tratamento existe — e funciona. O caminho pode incluir psicoterapia, grupos de apoio como os Alcoólicos Anônimos, acompanhamento médico e, em alguns casos, medicamentos que ajudam a reduzir a vontade de beber ou a controlar os efeitos da abstinência. O papel da família, nesse processo, é central: acolher, entender, apoiar sem julgamento.
Especialistas alertam que é preciso olhar para o alcoolismo com a mesma seriedade que se olha para outras doenças crônicas, como a diabetes ou a hipertensão. Isso significa políticas públicas consistentes, campanhas de conscientização, formação de profissionais da saúde e, sobretudo, a desconstrução de uma cultura que ainda glamouriza o excesso e marginaliza o dependente.
No Brasil, instituições como o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) e as Linhas de Cuidado em Saúde Mental oferecem informações e caminhos de apoio. A recuperação é possível — mas começa com um gesto simples, e ainda raro: parar de apontar o dedo e estender a mão.
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