Na Rua das Trincheiras, Centro de João Pessoa, entre casarões desbotados e becos com mais história que iluminação, a Academia de Comércio Epitácio Pessoa resiste — ou, melhor dizendo, desmorona com dignidade. Construída em 1922 e tombada como patrimônio histórico em 1998, a imponente edificação se transformou em um cenário de abandono institucional e silêncio cúmplice.
No final de 2023, o que já era decadente virou manchete: parte do teto desabou. A vizinha Câmara Municipal de João Pessoa, a poucos metros dali, assistiu à tragédia estrutural como quem ouve trovão e torce para não ser chuva. A Defesa Civil entrou em cena, interditou o local e confirmou o que qualquer transeunte já suspeitava: o prédio está comprometido por cupins, infiltrações, e — claro — um completo colapso no zelo público.
O enredo ganha contornos tragicômicos quando se descobre que a UFPB, atual dona do prédio, travou uma batalha judicial com uma escola particular que se alojou no local durante mais de duas décadas, como quem ocupa uma herança esquecida. Só em 2023 a Justiça reconheceu o óbvio e concedeu reintegração de posse à universidade. Mas o gesto foi simbólico: por “motivos pedagógicos”, a desocupação foi adiada para não atrapalhar o ano letivo de 350 estudantes. E o prédio, que já não abrigava nem dignidade, teve de aguentar mais um pouco.
Fora dos autos, a realidade: o local virou ponto de tráfico, som no volume máximo e moradores em situação de rua buscando abrigo onde antes havia educação. A história virou ruína, e a ruína virou rotina.
Hoje, a Academia — que já formou contadores e comerciantes — forma, no máximo, uma metáfora do que acontece com o patrimônio brasileiro quando ele deixa de servir interesses imediatos. Políticos pedem “atenção”. População se esquiva. E a cidade finge que não vê.
O custo para restaurar o prédio? Milhões. A necessidade? Urgente. Mas vontade política, projeto técnico e investimento público ainda não foram localizados — talvez estejam tão perdidos quanto a própria função daquele edifício.
Enquanto isso, o tempo trata de concluir o serviço que o poder público começou: apagar, lasca por lasca, mais um capítulo da memória urbana.
Comente sobre o post