O corpo da publicitária Juliana Marins, de 26 anos, passou por autópsia nesta quarta-feira (2) no Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro, menos de 24 horas após desembarcar no país em voo da Força Aérea Brasileira. A análise foi acompanhada por peritos da Polícia Civil, da Polícia Federal e por uma das irmãs de Juliana, e durou cerca de duas horas e meia. O laudo preliminar deve ser entregue em até sete dias.
A família solicitou o novo exame, mesmo após a autópsia realizada na Indonésia, buscando respostas mais precisas sobre hora e causa da morte — pontos que ainda geram incertezas. As autoridades brasileiras homologaram o procedimento em audiência na Justiça Federal, com presença da AGU, Defensoria Pública da União e representantes do governo estadual.
A jovem morreu após sofrer uma queda durante trilha no Monte Rinjani, na ilha de Lombok, em 20 de junho. Inicialmente, ela foi vista com vida em uma área de difícil acesso, mas o resgate só a localizou quatro dias depois, já sem sinais vitais. O corpo foi retirado do local no dia 25 e transportado até Bali, onde passou por procedimentos iniciais antes da repatriação.
Uma cronologia repleta de lacunas
O caso gerou comoção e levantou questionamentos sobre a logística de resgate e a condução da trilha. Segundo relatos, Juliana foi deixada para trás por seu guia local para descansar e acabou se afastando da trilha principal. No dia seguinte, foi captada por drone, aparentemente consciente, mas presa em uma encosta. No dia 24, já morta, foi encontrada em um ponto ainda mais distante da trilha, o que levanta a possibilidade de uma segunda queda.
As autoridades indonésias estimam que Juliana tenha morrido entre a tarde do dia 24 e a madrugada do dia 25 (horário de Brasília). No entanto, a inconsistência nas estimativas alimenta a dúvida central: ela sobreviveu por dias após a queda ou não resistiu nas primeiras horas? Especialistas apontam que as más condições do corpo — agravadas pelo tempo e pelo transporte em freezer por longas distâncias — dificultam qualquer precisão.
A ausência de um casaco também chamou atenção. Juliana vestia camiseta de manga curta, calça, botas e luvas, mesmo com temperaturas que à noite chegam a 4°C naquela altitude. Não há confirmação se ela levava mochila ou suprimentos — informações que podem ser cruciais para entender as condições de sobrevivência durante os dias que se seguiram à queda.
Estrutura precária e acusações de negligência
O resgate no Monte Rinjani expôs limitações graves na estrutura local. O parque nacional onde ocorreu o acidente não conta com equipe especializada de plantão, nem com equipamentos permanentes de salvamento. Assim, as buscas dependeram da mobilização de voluntários e da chegada de recursos improvisados, o que atrasou a operação.
A família Marins vem usando as redes sociais para denunciar o que considera um caso de negligência institucional por parte do serviço de resgate da Indonésia. A repercussão do caso reabriu o debate sobre os riscos enfrentados por turistas em trilhas de difícil acesso fora do país — especialmente em locais onde os guias não têm certificação formal e onde os protocolos de emergência são frágeis ou inexistentes.
Enquanto o laudo final da nova autópsia não é divulgado, o caso de Juliana permanece sob investigação tanto no Brasil quanto na Indonésia. Do lado de cá, a busca agora é por respostas mais que simbólicas — é por uma reconstrução responsável de tudo o que não deveria ter acontecido.
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