Liebert Pinheiro não quer ser apenas mais um artista contemporâneo dizendo coisas contemporâneas em galerias silenciosas com ar-condicionado. Ele quer barulho de festa, cheiro de suor de bloco de rua e a força dos terreiros que sobrevivem ao concreto. Para isso, recorre ao que o Brasil tem de mais genuíno e menos valorizado: a cultura popular como expressão estética e política.
Natural da Paraíba, Liebert vem se destacando com um trabalho que gira — literalmente — em torno de máscaras, rituais, brincadeiras e ancestralidade, como se cada peça sua fosse ao mesmo tempo um enfeite de Carnaval e uma oferenda crítica à amnésia cultural do país. Seus personagens, moldados entre o sagrado e o lúdico, evocam bois encantados, caretas de interior e fantasmas de um Brasil que ainda dança, mesmo quando ninguém olha.
Em entrevista recente à Casa Vogue, ele falou com clareza rara (e um sotaque que se recusa a ser diluído) sobre sua trajetória, suas referências e sobre por que ainda acredita que um artista deve ter lado — e ginga.
“A máscara nunca é só adereço”, afirma. “Ela esconde, mas também revela. Através dela, a gente diz o que não consegue dizer de cara limpa.”
Liebert não cria para agradar curadores — embora eles já estejam, claro, de olho. Seu trabalho tem mais a ver com memória afetiva do que com tendências, e com crítica social enraizada na pele do povo, não no discurso pasteurizado da arte de shopping center. Ele costura cores berrantes com simbologias de matriz africana, católica e indígena, e transforma isso tudo em um caldeirão visual que remete ao Brasil real — aquele que sobrevive a cada festa, a cada reza, a cada resistência.
Mas não pense que é um retorno nostálgico ao passado. Pelo contrário: é uma pancada estética no presente. Porque enquanto o país se vê tentado a embranquecer seus traços e arquivar seus sotaques, Liebert estampa a brasilidade como ruído, como força estética, como bagunça organizada.
“O Brasil é visualmente escandaloso — e a arte precisa acompanhar isso”, diz ele. “Não dá pra pintar o caos com tons neutros.”
E assim, entre uma máscara de couro, um rosto pintado de vermelho e uma crítica camuflada em fantasia, Liebert Pinheiro vai desenhando não apenas uma carreira, mas uma afirmação de pertencimento. Em tempos de filtros e apagamentos, ele escolhe o avesso da selfie: a arte como rosto coletivo, ancestral e ainda por decifrar.
Se vai dar certo nos salões brancos da arte contemporânea? Talvez. Mas, se depender dele, vai ter chocalho, vai ter terreiro e vai ter riso debochado — tudo junto e de cabeça erguida.
Comente sobre o post