O litoral paraibano tem mais do que areia, mar e coqueiro. Tem teatro. E, em julho, ele se manifesta em forma de musical, palco e provocação. A quarta edição do Festival Bróduei Nordestina, que vai de 3 a 30 de julho, espalha sua programação entre o Teatro Paulo Pontes e a Usina Cultural Energisa, consolidando-se como uma das raras trincheiras dedicadas ao teatro musical no Nordeste — e talvez a mais ousada.
Criado pelo coletivo Lampiarte, o festival surge como um antídoto para a carência de espaços dedicados ao teatro na Paraíba. Em vez de importar fórmulas, ele devolve à cena paraibana o que dela é por direito: protagonismo, sotaque e chão. É o teatro como raiz — enredado no mangue, moldado pela falésia e alimentado por uma cidade que, apesar de por muito tempo esquecida nos grandes circuitos, pulsa arte por todos os poros.

Segundo o produtor Jordy Lamarke, o festival não se limita a oferecer palco. Ele cria território. A cada edição, os espetáculos encarnam temas que tocam as entranhas do Nordeste, sua memória e sua linguagem. Neste ano, o tema “Raízes à Beira-Mar” propõe exatamente isso: que a arte resista como vegetação de restinga, sobreviva como mangue e se imponha como corpo de falésia diante da erosão cotidiana da cultura.
Espetáculo “Lamúrias”
A “Premiação Tonho” — em nome e propósito — reforça esse compromisso. Ao valorizar artistas locais, a iniciativa destaca talentos que nem sempre são vistos pelas luzes do mainstream, mas que fazem a cena nordestina acontecer dia após dia. Não é só um troféu. É um reconhecimento enraizado.
Espetáculo “Encantos da Jurema”
Inclusivo por convicção, o festival ainda garante acessibilidade em Libras, provando que arte popular não precisa ser excludente para ser potente. Ao contrário: quando é feita com escuta e intenção, ela chega aonde precisa.
João Pessoa, neste julho, não será apenas uma cidade com mar e espetáculos. Será mangue, palco e trincheira. A Bróduei Nordestina não quer apenas entreter. Quer deixar marcas. E, se possível, criar raízes.
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