A cotação do café arábica, que hoje flutua entre R$ 2.000 e R$ 2.500 por saca, vem chamando atenção de um público nada gourmet: ladrões especializados. A bebida mais consumida do país virou moeda valiosa no submundo do crime, com cargas milionárias sendo roubadas antes mesmo de chegarem à torra.
Em abril, uma operação criminosa com reféns terminou com a subtração de uma carga avaliada em R$ 1,5 milhão. A polícia investiga redes paralelas de revenda, amparadas pela informalidade do mercado e pela ausência de mecanismos eficazes de rastreamento. Grão por grão, o café desaparece sem deixar rastro — nem cheiro.
A escalada do valor tem raízes na natureza e na geopolítica: clima adverso, quebra de safra, demanda global aquecida e um cenário cambial volátil empurraram o arábica para patamares históricos. Em 12 meses, o preço saltou mais de 80%. Mesmo assim, os cafeicultores não estão rindo à toa. Com custos de produção em alta, fertilizantes ainda caros e fretes disputando espaço nas estradas, o lucro aperta enquanto o risco se espalha.
Essa equação desigual transformou as fazendas em minas abertas e os caminhões em cofres sobre rodas. Os criminosos, atentos ao valor do produto e à fragilidade logística, enxergam no café o que antes era reservado a cargas de eletrônicos e combustíveis: uma oportunidade rápida e rentável.
Comente sobre o post