Por algum tempo, acreditou-se que o grande vilão do ensino superior fosse o preço da mensalidade, a distância do campus ou, vá lá, a redação do Enem. Mas um levantamento da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior), em parceria com a Educa Insights, mostrou que o obstáculo agora é outro — e atende por nomes tão variados quanto “jogo do tigrinho”, “betzinho” ou simplesmente “o aplicativo que promete fazer você rico antes dos 20”.
Segundo o estudo, nada menos que 34% dos jovens entre 18 e 35 anos adiaram a entrada na universidade por causa do vício (ou, para os mais otimistas, “hábito rentável”) em apostas online. Isso mesmo: quase um em cada três jovens decidiu que girar o slot machine era mais promissor do que cursar Direito ou Engenharia. Se o objetivo era conseguir uma profissão, talvez tenham se confundido e tentado a de apostador profissional — uma que não costuma aparecer no LinkedIn, diga-se.
A situação é ainda mais alarmante entre as classes D e E: 43% dos entrevistados afirmam que só vão conseguir começar a graduação depois de parar com os joguinhos. Na prática, é como se o tigrinho tivesse se tornado o novo vestibular — só que, em vez de questões de múltipla escolha, você precisa vencer uma plataforma programada para te fazer perder. E sem redação no final.
E não para por aí: 14% dos estudantes que já se matricularam também disseram que atrasaram mensalidade ou trancaram a matrícula por conta das apostas. Ou seja: a universidade virou um “bônus de rodada grátis” que nem sempre cai na conta. O boleto do FIES pode esperar, mas o botão de “apostar tudo” parece sempre mais urgente.
O fenômeno, claro, tem explicações mais complexas do que parece. Publicidade agressiva, promessas de enriquecimento rápido, influência de influenciadores (com ou sem “influência”), ausência de regulação séria e um vazio existencial preenchido com dopamina digital. Afinal, a faculdade exige esforço e paciência; o cassino online oferece adrenalina imediata, gráficos coloridos e aquele eterno “vai que agora vai”.
A culpa não é só do jovem — embora ele tenha digitado o CPF no aplicativo e clicado em “aceito os termos de uso”. O país liberou as apostas online sem garantir políticas de prevenção ao vício, sem limitar a propaganda e, mais grave ainda, sem explicar que “ganhar dinheiro fácil” é uma categoria que só existe no discurso de quem já ganhou o seu.
Enquanto isso, o tigrinho segue rugindo, sorridente e pixelado, engolindo a chance de um diploma a cada aposta perdida.
E o MEC? Silêncio. Talvez porque, no Brasil de hoje, regular o cassino online seja mais difícil do que passar em Medicina na USP.
A educação está perdendo para o slot machine. E, pelo visto, não vai ter cashback.
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