O palco do Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa, foi cenário de mais do que arte nos bastidores. A atriz e diretora Letícia Rodrigues, que comandava produções no espaço, foi condenada pela 2ª Vara Criminal da capital paraibana por injúria racial contra três colegas de trabalho. Segundo a decisão do juiz Marcial Henrique Ferraz da Cruz, as ofensas proferidas por ela tinham motivação discriminatória e estavam diretamente relacionadas à raça e cor das vítimas.
Os relatos trazem um cotidiano de violência verbal nos bastidores do teatro, onde, durante ensaios e reuniões, frases com conotações racistas teriam sido dirigidas aos funcionários, entre elas expressões como “olha o carvão” e “sou rica porque sou branca”. A denúncia foi acolhida pela Justiça, que determinou uma pena de seis anos de reclusão, além de multa. No entanto, por se tratar de ré primária, a punição foi convertida em restrições de direitos, a serem definidas pela Vara de Execuções Penais. O cumprimento inicial da pena será em regime aberto.
A defesa de Letícia já anunciou que vai recorrer. Em nota, o advogado Luiz Augusto afirmou que a artista “sempre tratou bem os colegas” e que a decisão judicial foi baseada em acusações sem respaldo probatório. Letícia, por sua vez, nega todas as acusações, afirma ter sido vítima de armação e alegou que, por ser uma pessoa trans, também integrante de uma minoria social, “não seria capaz de cometer esse tipo de crime”.
A condenação, no entanto, reacende o debate sobre como estruturas de poder e hierarquia podem reproduzir racismo mesmo em espaços culturais. E também reforça que, no palco da Justiça, não há papel que blinde ninguém das consequências daquilo que diz.
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