A data, para quem faltou essa aula, remete ao lendário festival Live Aid, realizado em 13 de julho de 1985, simultaneamente em Londres e na Filadélfia. O evento reuniu nomes como Black Sabbath, Queen, U2, David Bowie, Led Zeppelin, The Who, e, claro, um Phil Collins que decidiu tocar em dois continentes no mesmo dia, só porque podia. A causa era nobre — arrecadar fundos para combater a fome na Etiópia —, mas o que ficou mesmo na memória coletiva foi Freddie Mercury fazendo Wembley cantar “Radio Ga Ga” como se fosse a última noite da humanidade.
Aqui no Brasil, o Dia Mundial do Rock é levado mais a sério do que o Dia do Índio, o que diz muito sobre a nossa relação com cultura e barulho. E com razão. Afinal, o Brasil sempre teve seu berço de barulhos afinados. Raul Seixas já gritava por uma sociedade alternativa enquanto o país enfrentava censura. Os Mutantes experimentavam ácidos sonoros quando nem sabíamos se era rock ou delírio lisérgico. E Rita Lee, rainha autoproclamada (e merecida) do rock nacional, mostrou que se pode quebrar tudo — inclusive padrões — sem perder o rebolado.
Nos anos 1980, o rock tupiniquim virou hino de uma geração que ainda achava que mudaria o mundo com três acordes e uma calça rasgada. Legião Urbana, Titãs, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e Capital Inicial cantaram o desencanto juvenil com uma poesia que faria Cazuza cuspir verdades e Nietzsche bater palmas. Já os anos 90 nos deram Raimundos, Planet Hemp, Charlie Brown Jr. e Pitty, que levaram o grunge, o punk e o rap para os becos da periferia e para as rádios populares.
Lá fora, enquanto isso, o rock já tinha passado por suas muitas fases — dos gritos viscerais de Kurt Cobain, aos riffs meticulosamente caóticos de Metallica, às pirotecnias de AC/DC, ao amor dançante dos Arctic Monkeys e à arrogância calculada dos Oasis (porque sempre tem um Liam querendo brigar com o próprio irmão).
Hoje, dizem por aí que o rock está fora do topo das paradas. Pode até ser. Mas também é verdade que Greta Van Fleet, The Warning, Terno Rei, Far From Alaska e até Fresno seguem tocando o terror — mesmo que, às vezes, com menos revolta e mais produção de estúdio. O rock pode ter trocado o palco por um canal no YouTube, mas continua ali: gritando verdades inconvenientes, desafinando o sistema e dando voz a quem prefere uma guitarra distorcida a um autotune afinadinho.
No fundo, o rock não precisa de um dia. Ele precisa só de gente disposta a não seguir o script — e isso, por enquanto, ainda existe.
Feliz Dia Mundial do Rock. Ligue o som. De preferência, alto. 🎸🔥
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