Meditação, a velha prática milenar que antes parecia coisa de monge tibetano em retiro silencioso, agora é pop. Está no feed do Instagram, no aviso da nutricionista, no grupo de mães do colégio, no podcast do influenciador do momento. Mas, se por um lado ela virou solução para quase tudo — de crise existencial a insônia de domingo — por outro, ainda assusta quem acha que “esvaziar a mente” é o novo Enem da alma.
A verdade? Ninguém esvazia a mente. Nem o Dalai Lama em dia de trânsito. Pensar é da natureza humana. E justamente por isso, dizem os especialistas, a meditação não é sobre silenciar a cabeça, mas sobre aprender a conviver com o barulho — tipo dividir o apartamento com um colega tagarela e não enlouquecer.
Segundo a terapeuta Janeth Chamochumbi, essa ideia de que só os iluminados conseguem meditar é um presente envenenado do perfeccionismo coletivo. E aí surgem os clássicos: “não consigo parar de pensar”, “não sei ficar parado”, “perda de tempo”. Acontece que, como explica o psicólogo Juan José Soza, meditar é mais sobre praticar presença do que buscar uma performance zen. E qualquer momento — sim, até o intervalo do cafezinho — pode ser uma porta de entrada.
Entre as várias vertentes, duas se popularizaram como playlists do bem-estar: mindfulness e meditação guiada. A primeira, também chamada de atenção plena, pede um olhar generoso para o agora, sem julgamento (o que, convenhamos, já é um baita exercício). Já a segunda funciona como meditação com GPS: uma voz conduz, você apenas segue o caminho.
Ambas têm seus públicos e promessas. Enquanto mindfulness é o preferido de quem quer mais foco e menos reatividade — tipo um antivírus emocional —, a guiada costuma ser o abraço sonoro para quem só quer desligar sem precisar de chá de camomila ou série ruim. A boa notícia? Nenhuma delas exige tapete especial, roupa de linho ou uma viagem à Índia. Dez minutos por dia, com intenção, já fazem cócegas no cérebro.
Mas, spoiler: não é só flores. Começar pode ser desconfortável. A quietude assusta, o tédio cutuca, a mente corre para a lista do supermercado. Faz parte. Como diz a professora Paola Hermoza, o treino é justamente não fugir disso, mas aprender a observar. Um pouco como assistir a um filme de si mesmo — sem precisar virar fã, só entendendo o roteiro.
Outro ponto crucial é a autocompaixão. Se você se distraiu, se cochilou, se pensou no boleto… parabéns, está vivo. Recomece. A prática, dizem os especialistas, não é sobre se tornar um ser de luz, mas sobre sair do modo piloto automático — e lembrar que, no fundo, estar presente é o único superpoder que realmente temos.
Então, respira de novo. Não precisa cruzar as pernas nem acender incenso. Só esteja. Porque no caos do mundo moderno, prestar atenção em si mesmo talvez seja o ato mais revolucionário — e, quem diria, o mais silencioso também.
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