Pela primeira vez em seus mais de 125 anos de história, a Academia Brasileira de Letras abriu espaço para uma mulher negra: Ana Maria Gonçalves. Eleita para uma das 40 cadeiras da instituição, a autora de Um defeito de cor protagoniza um marco que vai além do campo literário — é um gesto simbólico de reparação, representatividade e afirmação no cenário cultural brasileiro.
A resposta do público não demorou. Em menos de um dia após a eleição, cerca de 2 mil exemplares do seu romance histórico foram vendidos, segundo dados do mercado editorial. A obra, que narra a trajetória de Kehinde, uma mulher negra escravizada no século XIX, é frequentemente citada como divisor de águas na literatura contemporânea do país, especialmente ao colocar no centro da narrativa uma voz negra, feminina e protagonista da própria história.
Lançado originalmente em 2006, o livro tem mais de 900 páginas e ganhou status de obra essencial — tanto por sua força literária quanto pela contribuição ao debate sobre identidade, ancestralidade e pertencimento. Não por acaso, Um defeito de cor lidera atualmente a lista da Folha de S.Paulo como o melhor romance brasileiro publicado neste século.
A eleição de Ana Maria Gonçalves representa mais que a consagração de uma autora. É um espelho necessário em uma casa que por muito tempo refletiu apenas parte do Brasil.
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