João Pessoa, promessa de paraíso solar, tem uma área que parece ter parado no tempo e não de forma romântica, como nos cartões-postais europeus. No Centro Histórico da cidade, o que salta aos olhos não são as belezas coloniais ou o charme das fachadas antigas, mas o abandono vergonhoso que transforma história em entulho.
Algumas ruas do Centro, por exemplo, ainda resiste com seus paralelepípedos centenários — ou pelo menos com o que sobrou deles. Parte já virou cratera. O restante balança sob os pés como se fossem peças soltas de um tabuleiro. Os poucos transeuntes que se arriscam por ali fazem verdadeiras coreografias urbanas para desviar de buracos, degraus imprevisíveis e calçadas que, em muitos trechos, desapareceram sem deixar vestígio.
Os casarões, que deveriam contar a história da cidade, mais parecem sussurrar pedidos de socorro. Janelas emparedadas, portas arrombadas, telhados desabando sob o sol e a chuva, quando não estão servindo de abrigo improvisado para ratos e pombos. Em alguns quarteirões, o cenário é tão distópico que seria plausível imaginar que algum cineasta visionário tenha escolhido o local para filmar um apocalipse tropical.
E onde está o poder público nisso tudo? Está… estudando. Planejando. Lançando promessas em redes sociais com filtros bonitos e vídeos com drone. Enquanto isso, moradores e comerciantes da área convivem com o caos diário: insegurança, lixo acumulado, iluminação precária e um turismo que passa bem longe dali.
O que deveria ser um polo cultural e turístico virou uma área fantasma com vocação para abandono. É como se a cidade tivesse decidido apagar sua própria memória, enterrando a beleza de sua história sob asfalto mal feito e camadas generosas de indiferença administrativa.
João Pessoa merece mais. O Centro Histórico não precisa ser apenas bonito nas postagens do Instagram institucional. Precisa ser vivido, restaurado, respeitado. Porque até para o abandono existe um limite e, por aqui, esse limite já foi ultrapassado faz tempo.
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