Quem anda pelas ruas de João Pessoa sente na pele o calor implacável que toma conta da cidade, especialmente nos últimos anos. Mas basta consultar os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) para surgir a dúvida: será que esses termômetros oficiais estão realmente registrando a realidade que vivemos?
Em tese, as estações meteorológicas automatizadas, como as operadas pelo INMET, são consideradas as mais confiáveis. Usam sensores calibrados, seguem protocolos rígidos e estão instaladas em locais padronizados, longe de interferências urbanas como asfalto, prédios e concreto quente. Mas aí está o dilema: esses “locais ideais” nem sempre refletem o ambiente real da maioria da população.
A estação do INMET em João Pessoa, por exemplo, está localizada na Mata do Buraquinho, uma das áreas mais arborizadas da cidade. Ou seja, enquanto o centro fervilha com o calor refletido pelo concreto e os termômetros populares marcam 30, 33, até 35 graus, a estação oficial pode muito bem estar mostrando “apenas” 27. Na prática, o cidadão que espera o ônibus sob o sol do Varadouro ou atravessa o asfalto escaldante da Epitácio Pessoa sente algo bem diferente. Eu pergunto: “será que aqueles termômetros que vemos nas avenidas são confiáveis? E aqueles que vemos diariamente nos celulares?).
Será que não está na hora de rever o alcance desses dados? Será que João Pessoa precisa de mais pontos de medição espalhados por regiões com densidade populacional maior? Afinal, medir o clima em um refúgio verde pode ser ótimo para estudos ambientais, mas pouco ajuda quem enfrenta o calor urbano todo santo dia.
Enquanto isso, seguimos convivendo com uma dualidade climática curiosa: o calor que sentimos e o calor que os sensores oficiais insistem em dizer que não é tudo isso. Talvez esteja na hora de ajustar não apenas os termômetros, mas também a forma como medimos e enfrentamos, a realidade do aquecimento urbano.
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