Depois que as bombas pararam de cair e a poeira assentou na Europa do pós-guerra, a arquitetura entrou em crise existencial. Entre promessas de futuro brilhante e fachadas maquiadas, um punhado de arquitetos resolveu jogar a maquiagem fora e exibir as entranhas dos edifícios como quem diz: “é isso aqui mesmo, lide com isso”.
Nascia aí o Brutalismo. Não como tendência estilosa, embora o Pinterest jure o contrário, mas como afronta. Era arquitetura sem filtro, sem reboco, sem papas na língua. Uma espécie de manifesto construído com o que tinha à mão: concreto, suor e uma boa dose de indignação com o estado das coisas.
Para gente como Reyner Banham e os Smithson (Alison e Peter, casal que preferia concreto a cortinas), a proposta era simples: parar de construir casinhas que fingem ser o que não são. Nada de colunas falsas, nem sorrisos arquitetônicos. O edifício mostrava seus pulmões, sua pele áspera e suas tripas estruturais. Tudo à vista. Porque o povo, afinal, não precisava de ilusões, precisava de espaço.
Mas, como tudo que começa com revolta e termina em editorial de revista, o Brutalismo tropeçou na própria fama. Virou “estilo”, ironicamente, o que mais desprezava e passou a ser replicado com um certo fetiche pela aspereza. Quando o concreto virou gourmet, perdeu-se boa parte da revolta original.
Ainda assim, fora do eixo Europa-Estados Unidos, o Brutalismo seguiu vivendo. Em São Paulo, ele virou abrigo de corpos apressados e ideias agitadas. Em Caracas e Bogotá, virou símbolo de uma arquitetura que não tem tempo pra frescura. A ideia? Fazer prédio que aguente gente, tempo e governo, não necessariamente nessa ordem.
Hoje, entre um café em frente ao Copan e um protesto na Marquise do Ibirapuera, o que resta não é a estética, mas o incômodo. O Brutalismo ainda desafia quem passa. Não agrada. Não embeleza. Mas é honesto, o que, convenhamos, anda cada vez mais raro no concreto e fora dele.
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