Durante mais de 500 anos, muita gente jurou que Leonardo da Vinci havia usado a tal Proporção Áurea, aquela constante mística que designers adoram jogar em pitch de marca, como régua do seu famoso Homem Vitruviano. Agora, um matemático britânico resolveu desmontar essa lenda com um compasso, uma lupa e bastante paciência.
Rory Mac Sweeney, especialista em matemática e notável por enxergar formas onde poucos veem, identificou no desenho renascentista uma estrutura que passou batida pelos apaixonados por Phi (1,618…). Segundo ele, bem no centro do desenho, entre os dois pés do homem e sua virilha, há um triângulo equilátero que não está ali por capricho gráfico ou crise criativa de Da Vinci. Está ali porque era parte do plano.
A descoberta põe em xeque a leitura mais romantizada da obra, que sempre foi tratada como um tratado estético da proporção divina. Acontece que, ao medir o raio do círculo e os lados do quadrado, a tal Proporção Áurea nunca bate direito. Leonardo pode ter sido genial, mas calculadora de bolso ele não tinha e nem parecia interessado em seguir fórmulas místicas à risca.
Mac Sweeney sugere que a real proporção encontrada no desenho gira em torno de 1,64 ou 1,65. Não é Phi, mas é próximo da chamada razão tetraédrica (1,633), usada para calcular o empacotamento ideal de esferas em pirâmides, uma preocupação clássica de quem, digamos, modela corpos ou empilha laranjas.
A pista mais escancarada estava lá desde o início, escrita pelo próprio Da Vinci: “Se você abrir as pernas, o espaço entre elas será um triângulo equilátero”. A frase, ignorada por séculos como se fosse apenas uma metáfora anatômica ou uma tentativa de poesia renascentista, agora ganha nova relevância.
No fim das contas, o gênio florentino pode ter sido menos alquimista e mais engenheiro do que pensávamos. E o “homem perfeito”, antes regido por mitos dourados, talvez tenha nascido de um simples triângulo e uma boa dose de observação, bem ao estilo Leonardo: com os pés no chão e os olhos no compasso.
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