No Maracanã lotado deste domingo, Pedro deixou o banco de reservas com a sutileza de quem já sabia: era dia de redenção. Em apenas 17 minutos, o camisa 9 do Flamengo resolveu o clássico contra o Fluminense com um gol seco, direto e simbólico — quase uma resposta de primeira ao técnico Filipe Luís e à turbulência dos últimos dias.
A entrada do atacante no segundo tempo foi recebida como se fosse uma estreia de gala. Gritos, cantos eufóricos e, claro, aquele clima de “agora vai”. E foi. Pedro, alvo recente de vazamentos constrangedores e protagonista de uma queda de braço silenciosa com parte da diretoria e da comissão técnica, tratou de colocar a bola no fundo da rede e o nome no centro da narrativa rubro-negra.
Antes disso, no entanto, o roteiro já tinha começado a se desenhar. No aquecimento, conversava mais com os novatos do que com os chefes. Enquanto batia bola com Jorginho, Matheus Gonçalves e Evertton Araújo, soltou uma daquelas frases que só quem tem fé ou fome solta: “Hoje tem gol meu.” Teve.
O gol, de escanteio, foi daqueles de manual: desmarque sutil, chegada no segundo pau e finalização sem frescura. A comemoração misturou alívio, protesto mudo e o clássico beijo no escudo. Jorginho correu como quem apostou e ganhou. Pedro, de olhos fechados, pareceu pedir um segundo de paz antes de ser soterrado pelos abraços dos companheiros.
Filipe Luís, do banco, celebrou o gol com intensidade. Mas entre ele e Pedro, nem olhar. Nem palavra. Só um cumprimento protocolar no fim do jogo, digno de reunião corporativa tensa. O técnico aplaudiu, mas não se aproximou. O atacante comemorou, mas não buscou o treinador. O clima entre ambos segue na temperatura de uma quarta-feira de cinzas.
Já no vestiário, Pedro resolveu se posicionar. Sem rodeios, falou sobre o vazamento de prints em que um dirigente do clube o “oferecia” a clubes europeus por 15 milhões de euros — quantia, aliás, que parece ter saído de um leilão de garagem. Disse que foi afetado emocionalmente, que seu rendimento caiu e que esperava mais respeito após cinco anos de serviços prestados.
— O que vazou me abalou. Foi uma falta de respeito com minha história aqui. A forma como trataram isso não foi justa. Se tinham algo pra falar, que fosse na sala, não no print — desabafou, num tom calmo, mas nada conformado.
Pedro ainda deixou no ar que espera um pedido de desculpas. O Flamengo, por sua vez, tenta aplicar aquela velha tática da “página virada”, como quem finge que a novela acabou no penúltimo capítulo. Mas o público, a julgar pelo que viu no Maracanã, sabe que tem mais drama vindo por aí.
Comente sobre o post