Em um país onde a realidade frequentemente parece um roteiro mal escrito de distopia, o Cinema brasileiro, esse sobrevivente das crises e cortes orçamentários, comemora seu dia em 19 de junho. A data marca o início da sétima arte por aqui, quando, lá em 1898, alguém resolveu apontar uma câmera para alguma coisa e apertar “rec”. Mais de um século depois, seguimos fascinados por essa mágica de luz e som que, além de entreter, serve como remédio, e nem precisa de prescrição médica.
Segundo Ana Cristina Rodrigues de Vasconcellos, psicóloga e coordenadora de curso no Centro Universitário Anhanguera, a ida ao Cinema pode funcionar como um detox mental. Em tempos de TikTok infinito e notificações sem fim, passar duas horas dentro de uma sala escura, longe do celular, é quase um retiro espiritual, com Dolby Atmos e cheiro de pipoca amanteigada.
Mas o Cinema não vive só de escapismo. Ele também é um palco de socialização. Um filme pode ser a desculpa perfeita para um encontro, uma DR ou aquele silêncio cúmplice entre amigos. Depois da sessão, vem o verdadeiro espetáculo: as discussões de bar, os debates sobre roteiro, os embates entre “eu achei uma obra-prima” e “pior filme da minha vida”. E nessa troca, surge algo raro: empatia, escuta e, se tudo der certo, um pouco menos de intolerância.
E se engana quem pensa que só vale ir acompanhado. Ir ao Cinema sozinho é quase um ato político ou, no mínimo, um gesto de autocuidado. Sabe aquele tempo só seu, longe do caos do grupo do WhatsApp da família? Pois é. Sentar-se no escurinho da sala e mergulhar numa história sem precisar explicar nada pra ninguém pode ser mais terapêutico que muita sessão de análise.
A verdade é que o Cinema brasileiro, esse herói sem capa e com orçamento reduzido, continua sendo uma das ferramentas mais potentes para provocar, consolar, educar e dar voz ao que muita gente prefere fingir que não vê.
Comente sobre o post