Quando menos é mais (de verdade): a volta do básico como ato radical
Era só uma garota bonita de jeans, num fundo branco, covm voz suave. Andou, virou de lado, falou meia dúzia de palavras sobre o corte da calça. Acabou. E foi o suficiente para a American Eagle sumir do mapa por algumas horas ou melhor, do ar: o site caiu, as ações subiram 20% e a internet fez o que sabe fazer de melhor quando se emociona com o óbvio, viralizou.
Nada de storytelling sobre aceitação, representatividade, ancestralidade da sarja ou um QR Code para baixar um e-book sobre “o verdadeiro significado do denim”. Nada. Era só a Sydney Sweeney de jeans. E, ao que tudo indica, o mundo inteiro achou isso revolucionário.
Claro, não pela inovação, mas pelo oposto: pela normalidade.
A propaganda, coitada, andava há anos tentando salvar o mundo. Inventou arco-íris onde só havia cinza, tentou vender consciência no lugar de produto e achou que bastava um slogan inclusivo para justificar um delivery de 10 mil quilômetros. Esqueceu que o consumidor quer muita coisa, menos se sentir em uma reunião do DCE enquanto compra uma calça.
A American Eagle fez o que parecia proibido: entregou beleza sem nota de rodapé. Não problematizou o jeans, não pediu desculpas pela modelo, não disfarçou o apelo visual com um discurso acadêmico. Só mostrou. E funcionou. O povo, pasme, gostou.
Seria esse o indício de uma revolta silenciosa contra o excesso de significados? Uma rebelião passiva contra o “não pode isso”, “cuidado com aquilo” e “já leu sobre aquilo outro”? Talvez. Ou talvez seja só um bando de gente exausta mesmo.
Vivemos tempos em que parecer perdido é mais honesto do que parecer certo. A beleza virou ofensa, o gosto pessoal virou opressor e até a harmonia estética passou a ser vista com desconfiança, como se o simétrico tivesse votado errado.
Mas, no meio da gritaria digital, a simplicidade voltou a ter voz. E não é porque ela grita, mas justamente porque ela sussurra.
O jeans não salvou ninguém. Não fez milagre. Não prometeu mudar o mundo. Só vestiu bem. E num tempo em que tudo precisa de dez camadas de contexto, isso, meus caros, é praticamente uma revolução.
Sydney virou de lado. E talvez, com ela, tenha virado também o vento.
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