Faltando menos de 72 horas para que entre em vigor a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, um raro sinal de alívio veio de Washington. Em entrevista à rede CNBC, o secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick, indicou que alimentos que não têm produção significativa no território americano poderão escapar da medida. A fala trouxe esperança a exportadores do Brasil, especialmente dos setores de frutas tropicais, sucos, como o de laranja, óleo de palma e café.
A declaração, no entanto, não mencionou explicitamente o Brasil, e o contexto segue incerto. Desde que o aumento tarifário foi anunciado pelo governo de Donald Trump, autoridades brasileiras têm buscado interlocução com a Casa Branca. A possibilidade de um telefonema direto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder norte-americano chegou a ser aventada por integrantes do governo, mas diplomatas avaliam que um contato direto depende de acertos prévios entre as equipes dos dois países, o que não teria ocorrido até agora.
Em Washington, o líder do governo no Senado, Jacques Wagner (PT-BA), descartou uma ligação entre os dois presidentes antes da aplicação das tarifas, prevista para a próxima sexta-feira (1º). “Essas conversas não se marcam de um dia para o outro”, afirmou o senador ao Estadão.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que o Brasil não pretende responder com retaliações comerciais. Segundo ele, a prioridade do governo é proteger os interesses da população e evitar uma escalada de tensões. “Não vamos agir com impulsividade nem repetir erros do passado. Isso não está no nosso cardápio”, disse Haddad, alfinetando posturas mais alinhadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Enquanto a diplomacia tenta contornar o embate, análises apontam que a medida de Trump tem um claro viés político (e pessoal). Para o colunista Vinicius Torres Freire (Folha de S.Paulo), o republicano mira não apenas o Brasil, mas também líderes considerados críticos ao seu projeto político. “Trump quer submissão, especialmente no hemisfério americano. E cobra caro por resistências a seus aliados”, escreveu.
Já a jornalista Flávia Tavares (Cá entre Nós) avalia que Lula caminha num terreno minado, tentando equilibrar pragmatismo comercial e soberania política. Para ela, recuar diante da pressão sem uma sinalização clara de resistência pode custar caro ao Brasil.
Apesar dos esforços diplomáticos, o prazo é curto, e as incertezas persistem. As próximas horas serão decisivas para saber se o país conseguirá evitar o impacto direto do novo tarifaço ou se terá de lidar com suas consequências de maneira unilateral.
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