Nos últimos 12 meses (fevereiro de 2024 a fevereiro de 2025), 37,5 % das mulheres brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de violência por parceiro íntimo, o equivalente a 27,6 milhões de vítimas. Violência psicológica esteve à frente (31,4 %), seguida por agressões físicas (16,9 %) e ameaças ou perseguições (16,1 %). Esses índices representam o maior patamar desde o início das séries em 2017, o que indica não apenas maior conscientização, mas sobretudo maior incidência.
Brasil: feminicídio e estupro
Ao longo de 2024, o Brasil registrou 1.450 feminicídios, leve aumento em relação a 2023 (1.438), mas com uma redução geral de 5,1 % nos casos de violência letal contra mulheres (incluindo homicídios dolosos).
Foram também contabilizados 71.892 estupros, média de 196 por dia, uma pequena queda de 1,44 % em relação ao ano anterior.
Na Paraíba, ocorreram 25 feminicídios em 2024, cerca de duas mulheres mortas por mês simplesmente por serem mulheres. Contudo, entre janeiro e julho de 2025 já se registraram 19 feminicídios, o segundo pior primeiro semestre da década, só ficando atrás de 2018, que teve 22.
Enquanto os índices de feminicídio e violência doméstica caíram de 2023 para 2024 (de 34 para 26 feminicídios; de 1.412 para 1.269 casos de violência doméstica), os crimes sexuais aumentaram drasticamente. Estupros saltaram de 163 para 252 casos (aumento de 54,6 %) e estupros de vulnerável cresceram de 418 para 883 casos (aumento de 111 %).
Outro levantamento apontou 1.170 estupros em 2024 na Paraíba (contra 575 em 2023), o que representa mais de três vítimas por dia, sendo quase 90 % mulheres.
Denúncias em alta e subnotificação
Até julho de 2024, a Central de Atendimento Ligue 180 recebeu 1.102 denúncias vindas da Paraíba, aumento de 30,7 % em relação a 2023. Desse total, 630 foram feitas pela própria vítima e 471 por terceiros. Em 505 casos, a violência ocorreu dentro da residência da vítima.
Em âmbito nacional, o Ligue 180 atendeu 132.084 denúncias em 2024 — alta frente a 114.626 de 2023 — e computou 750.687 atendimentos (média de 2.051 por dia), com crescimento expressivo no atendimento via WhatsApp (63 %, atingindo 14.572 mensagens).
Apesar do volume de denúncias, especialistas alertam que muitos casos ainda não são relatados devido ao medo, vergonha ou conivência social.
Entendendo a progressão da violência
Como explica a advogada Lazara Carvalho, “tudo começa com desrespeito à opinião, depois o cerceamento do convívio…, violência psicológica… e por fim, a violência física”. Essa trajetória revela a urgência de intervenção precoce como forma de prevenção.
Leis e serviços de apoio
A Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, é considerada uma das mais avançadas no combate à violência doméstica, e agora também se aplica a casais homoafetivos envolvendo mulheres trans ou travestis.
A Rede de Atendimento à Mulher inclui delegacias especializadas (DEAMs ou DDMs), Casas da Mulher Brasileira, Casas Abrigo, CRAM/CRAS, promotorias especializadas, defensoria pública e serviços de saúde. Essas instituições oferecem acolhimento psicológico, jurídico e suporte urgente em casos de risco.
Caminhos para buscar ajuda na Paraíba
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Ligue 180 — gratuito, 24h, por telefone ou WhatsApp (61 9610‑0180)Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) — para registro de ocorrência e pedido de medidas protetivas
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Ronda Maria da Penha — em João Pessoa, com apoio da Guarda Municipal e SEPPM
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Sala Lilás na Maternidade Frei Damião — acolhimento especializado para vítimas de violência sexual
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Casa Abrigo Aryane Thaís — abrigo seguro para mulheres em risco imediato
Conclusão: por que você precisa saber disso
Esses números revelam que a violência contra a mulher, especialmente na Paraíba, não é exceção: é estrutural. Além dos dados frios, cada estatística representa uma vida interrompida, uma história marcada por medo e desrespeito. Porém, há cada vez mais canais de denúncia, serviços de acolhimento e políticas públicas atuantes.
Se você vivencia violência ou conhece alguém nessa situação, não está sozinha. Denunciar é um direito e buscar apoio é um passo corajoso e essencial. Você merece respeito, proteção e segurança. E a sociedade precisa olhar, ouvir e agir.
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