Uma alimentação equilibrada e diversificada, baseada em alimentos frescos ou minimamente processados, é a base de uma vida saudável e essa é uma diretriz que o próprio Ministério da Saúde brasileiro reforça. Mais do que isso: a escolha do que se põe no prato também pode influenciar positivamente o meio ambiente, desde que envolva práticas sustentáveis na produção e no consumo.
Para a pesquisadora Thais Caldeira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro da rede latino-americana Colansa, a chave está numa dieta predominantemente vegetal, com frutas, hortaliças, grãos integrais e oleaginosas. Reduzir o consumo de carnes vermelhas e alimentos com aditivos ou ultraprocessamento é parte do caminho. “Trata-se de uma escolha que beneficia tanto a saúde quanto o planeta, com menor impacto ambiental”, explica.
Preço salgado da comida boa
Mas fazer escolhas conscientes no mercado ainda tem um preço. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017/2018), uma dieta saudável e sustentável no Brasil custa, em média, R$ 12 por dia, pouco acima do padrão atual da população, estimado em R$ 11. Essa diferença parece pequena no papel, mas pesa na vida real, principalmente para quem tem menos renda.
Dados do IBGE apontam que mais da metade (53,4%) da energia consumida pelos brasileiros com 10 anos ou mais vem de itens in natura ou minimamente processados, como arroz, feijão e carnes. No entanto, quase 20% do consumo calórico vem de produtos ultraprocessados, como biscoitos, margarina e pães industrializados, que são justamente os mais baratos e menos saudáveis.
O novo decreto federal nº 11.936/2024, que reformula a cesta básica nacional com base no Guia Alimentar para a População Brasileira, deixou esses produtos ultraprocessados de fora, reforçando a mudança de paradigma.7
Frutas caras, fast food barato
Thais Caldeira observa que alimentos com menor valor nutricional, como refrigerantes e produtos prontos, ainda são mais baratos, o que dificulta a adesão à dieta saudável, especialmente entre os mais pobres. “Nas classes de renda mais baixa, o peso da alimentação saudável no orçamento é muito maior. Já entre os mais ricos, os gastos tendem a se equilibrar”, analisa.
Segundo ela, alimentos como carnes processadas e produtos com alto teor de gordura e açúcar acabam encarecendo os hábitos alimentares da maioria da população. Já numa dieta mais saudável, os custos recaem principalmente sobre frutas e hortaliças, itens que historicamente variam de preço conforme o clima e as safras.
Clima, crises e inflação no prato
Eventos climáticos extremos, como estiagens e enchentes, afetam diretamente a produção agrícola e, por consequência, os preços nos supermercados. “Menor oferta significa preços mais altos”, aponta Thais. Casos recentes como o aumento recorde do café e do azeite em 2025 ilustram esse cenário.
Além do clima, fatores externos como a pandemia de covid-19 e recentes medidas econômicas internacionais, como o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também impactam os preços da alimentação no Brasil, direta ou indiretamente.
Em tempos de instabilidade, o desafio de comer bem e com responsabilidade ainda esbarra na desigualdade de acesso. E, nesse jogo de forças, a comida saudável segue no centro do debate, por saúde pública, justiça social e futuro do planeta.
Comente sobre o post