As hepatites virais continuam sendo uma das principais ameaças silenciosas à saúde do fígado no Brasil. Causadas por diferentes vírus, A, B, C, D (Delta) e E, essas infecções exigem atenção tanto pela diversidade de formas de transmissão quanto pelas possíveis consequências de longo prazo.
De acordo com a médica Cássia Mendes Correa, professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do Ambulatório de Hepatites Virais, os tipos A, B, C e D são os que mais preocupam autoridades sanitárias. “Cada tipo tem um modo distinto de contágio e uma trajetória clínica diferente, mas todos podem trazer impactos sérios se não forem diagnosticados e tratados”, afirma.
Sintomas discretos, riscos elevados
No início, os sinais das hepatites podem se confundir com os de uma virose comum: febre, cansaço e náusea. Mas um sintoma chama a atenção: a icterícia, coloração amarelada na pele e nos olhos, sinal clássico de sobrecarga hepática. Ainda assim, nem todos os casos se manifestam de forma evidente.
“Hepatites B, C e D, em especial, podem evoluir sem sintomas e se tornar crônicas”, explica Cássia. “Essas formas silenciosas podem permanecer por décadas, até que surjam complicações graves, como cirrose ou câncer no fígado.” Entre os desdobramentos mais graves estão o acúmulo de líquido na cavidade abdominal (ascite) e o sangramento digestivo, que muitas vezes marcam o estágio avançado da doença.
Diagnóstico e tratamento acessíveis
Apesar da gravidade, a detecção é simples e gratuita. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza testes rápidos que usam apenas uma gota de sangue e fornecem resultados em poucos minutos. A rede pública também oferece acompanhamento e tratamento para todos os tipos de hepatite. Vacinas estão disponíveis para os tipos A e B, enquanto o tratamento da hepatite C, hoje com alta taxa de cura, também é ofertado sem custos.
Segundo a especialista, o ideal é que todos façam o teste pelo menos uma vez na vida. A recomendação é ainda mais forte para pessoas com mais de 40 anos, usuários de drogas injetáveis, quem fez tatuagens, recebeu transfusão antes de 1993 ou vive com HIV.
“É preciso vencer o silêncio da doença com informação e acesso ao diagnóstico. O tratamento existe, mas só começa com o teste”, reforça Cássia.
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