A publicidade digital atravessa uma de suas maiores reconfigurações. Para o professor e colunista Luli Radfahrer, as redes sociais deixaram de ser um ambiente experimental e se tornaram o principal palco de diálogo entre marcas e consumidores, um espaço que antes era domínio da televisão. Hoje, observa ele, o movimento se inverte: são as emissoras que tentam se adaptar ao digital, criando aplicativos próprios e reformulando conteúdos para sobreviver no universo das plataformas.
“Há duas décadas, ninguém sabia ao certo se o Instagram ou o Facebook teriam fôlego. Era tudo incerto. Agora, esse processo se acelerou de forma drástica”, analisa Radfahrer. Com a chegada da inteligência artificial generativa e preditiva, essa evolução ganha impulso. Segundo ele, sistemas automatizados já são capazes de ajustar campanhas publicitárias em tempo real, com base no comportamento do público, otimizando investimentos, escolhendo os melhores horários e criando anúncios mais precisos e menos invasivos.
A personalização deixa de ser uma promessa e passa a ser um imperativo competitivo. Empresas de todos os tamanhos sentem esse impacto, mas a resposta não é uniforme. Grandes corporações e influenciadores com alto volume de produção tendem a incorporar essas soluções mais rapidamente. Já as empresas de médio porte, especialmente em setores com forte concorrência, apostam em ferramentas como automação, e-mail marketing e segmentação digital para sobreviver.
A transformação também afeta diretamente o modelo das agências de publicidade. “Na virada do século, a estrutura clássica das agências já dava sinais de desgaste. Agora, com a ascensão da IA, leis de proteção de dados e maior pressão por transparência, o modelo criativo tradicional perde espaço”, avalia Radfahrer.
Ele aponta para um possível retorno às origens: uma publicidade mais funcional, voltada para conversão imediata, como os antigos ‘reclames’ de rádio e TV. “A propaganda tende a se tornar cada vez mais técnica e menos artística. Aquela ideia romântica de que a publicidade é um campo para artistas deve ceder lugar à produção de conteúdo digital mais pragmática”, conclui.
Para quem busca expressar criatividade, o recado é claro: talvez a publicidade já não seja mais o melhor palco. A arte, nesse novo cenário, está migrando para outras arenas e o marketing, cada vez mais, se apoia na ciência dos dados.
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