Setenta anos após a morte de Carmen Miranda, a partir desta terça-feira (5), todo o repertório artístico da cantora e atriz passou a integrar oficialmente o domínio público. A liberação, prevista pela legislação brasileira de direitos autorais, permite que músicas, filmes, fotografias e demais expressões ligadas à artista sejam usados livremente, sem necessidade de autorização ou pagamento de royalties.
Nascida em Portugal, mas criada no Brasil desde a infância, Carmen Miranda construiu uma carreira de enorme projeção internacional. Ainda nos anos 1930, ganhou notoriedade como cantora de rádio e estrela do cinema nacional. Mas foi sua ida aos Estados Unidos, em 1939, que a transformou em um ícone global. Ao lado de figurinos tropicais, turbantes decorados e coreografias alegres, Carmen levou ritmos brasileiros, especialmente o samba, a plateias de todo o mundo, tornando-se símbolo da latinidade no imaginário hollywoodiano.
Entre seus maiores sucessos estão canções como “O Que É Que a Baiana Tem?”, composta por Dorival Caymmi, e “Chica Chica Boom Chic”, gravada já nos Estados Unidos. Ao longo da década de 1940, estrelou 14 filmes e chegou a figurar como a mulher mais bem paga do cinema norte-americano em 1945, um feito inédito para uma artista estrangeira em solo americano.
O legado de Carmen vai além dos palcos e das telas. Seu nome batiza ruas, centros culturais e praças, inclusive uma, em Los Angeles, próxima à Calçada da Fama, onde está eternizada com uma estrela. Parte de seu acervo está atualmente em exibição permanente no Museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o mesmo que organiza o Oscar.
A artista morreu precocemente em 1955, aos 46 anos, após um infarto em casa, no Rio de Janeiro. Seu velório atraiu uma multidão e foi marcado por homenagens emocionadas. Agora, com sua obra acessível a todos, é esperada uma nova safra de produções inspiradas em sua figura, sejam regravações musicais, cinebiografias ou projetos artísticos que revisitem sua influência sobre a cultura popular e a representação do Brasil no exterior.
Carmen Miranda, que em vida rompeu barreiras e reinventou imagens do país, volta ao centro do debate cultural. Desta vez, como fonte aberta de criatividade para novas gerações.
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